Como sempre,
combinaram encontrar-se na noite sem lua.
Era a melhor
altura. Além disso, como havia pouca luz ninguém andava a passear. Havia poucos
que gostassem do escuro. Tirando as corujas, claro.
Cada um vinha
de seu lado pois moravam em sítios diferentes. Tinham começado a juntar-se aos
poucos, quase sem darem conta. Depois foi uma questão de se habituarem a estar
juntos, a conversar, a olhar para o alto.
Naquele dia
o primeiro a aparecer foi o Urso. Não costumava ser o primeiro pois morava
longe, mas naquele dia adiantou-se e deixou-se ficar escondido por entre os
arbustos, imóvel e indistinto no meio das sombras.
Daí a pouco
ouviu restolhar e olhou para a direita vendo surgir o rosto do Texugo rente ao
chão.
Este, como
não estava a contar com a presença do Urso, apanhou um tremendo susto,
arregalando os olhos no meio da cara listada, fazendo uma expressão cómica.
- Já cá
estás?
- Pois não
me estás a ver?
- Não sei
como não caí para o lado…
- Para a
próxima, tenta fazer menos barulho. Ouvi-te à distância!
O Texugo,
arrebitou o nariz e sentou-se confortavelmente a aguardar pelos outros.
De repente,
surgido como que do ar, apareceu o Rato! Era a sua imagem de marca, aparecer
sem ninguém dar por ele!
- Mas tu…
Como é que fazes sempre isso? – Perguntou o Texugo com ar indignado, pois por
mais que tentasse não conseguia imitar o Rato.
- Segredos,
meu amigo, segredos que não se podem contar a ninguém! – Respondeu o Rato com
expressão ufana.
- Como
sempre temos de esperar por ela…
Palavras não
eram ditas, e eis que de um salto surge no meio deles a Lebre.
- Chamaram?
Estava só à espera da minha deixa para aparecer!
- Muito bem,
já que estamos todos, vamos lá que a noite não dura sempre.
Dirigiram-se
para a clareira do bosque que era cercada por árvores centenárias de tamanho
que nem conseguiam calcular. No meio da clareira havia uma pedra alta e esguia
junto da qual se sentaram, de costas bem encostadas e olhos virados para o céu.
- O ar hoje
está limpo e brilhante. – Diz o Urso.
- Cheira a
erva verde e tenra. – A Lebre franze o nariz a cheirar o ar.
- Hoje vamos
ver bem os brilhos lá em cima. – A voz do Rato soa reverente.
- Sim,
vamos. Lá está a Grande Toca de Esconder com o seu caminho bem marcado. Será que
é hoje que vemos alguma das outras luzes dar com ela? – Pergunta o Texugo para
ninguém em particular.
- Pode ser.
Elas têm o caminho bem marcado com outras brilhantes, e mais outra em cada
canto. Tenho de confessar que não entendo porque é que ainda nenhuma lá entrou.
A voz do
Urso soava baixa, e espelhava a confusão dos companheiros.
Ora as
brilhantes tinham o caminha para a Grande Toca de Esconder tão bem marcado…
E havia
tantas brilhantes lá em cima… será que não tinha de se esconder?
- Só pode
ser isso. Não têm de se esconder… Já pensaram, não precisar de uma toca de
esconder? – O Rato, ponderava nesta suposição descabida.
- Então para
que têm lá a Grande Toca de Esconder? Ali, tão bem feita uma brilhante em cada
canto e mais quatro brilhantes a indicar o caminho, sendo a última a mais
brilhante de todas? – Perguntou a Lebre, agastada.
- Não sei.
Lembram-se quando fizemos uma Toca de Esconder com pedras igual à Grande Toca
de Esconder, não escondia lá grande coisa…
- Só fica
escondido quando é dia.
Ficaram
todos a ponderar naquela questão durante algum tempo de olhos postos naquela
enorme Abobada Escura pontilhada por uma enormidade de brilhantes.
O Rato, de
repente, dá um salto de nariz no ar, como quem não acredita naquilo que está a
ver. De imediato todos voltam os olhos para onde o Rato estava a olhar e,
espanto dos espantos, vêem umas quantas brilhantes a fugir pela Abobada Escura,
deixando atrás de cada uma um rasto brilhante que a pouco e pouco se vai
desvanecendo.
Aquelas
poucas brilhantes desapareceram rapidamente.
- Viram?
Viram? Mas porque não foram elas para a Toca de Esconder?
De súbito
surgiu um novo grupo, maior, mais brilhante. Deste grupo destacou-se uma das
brilhantes, que ganhou velocidade, indo desaparecer mesmo no centro da Toca de
Esconder.
As
respirações que tinham ficado em suspenso, fizeram-se ouvir em alívio.
Salvou-se uma!
Olharam para
todos os lados em busca de outras que pudessem aparecer. E assim foi.
Em grupos ou
isoladas, as brilhantes fugiam a grande velocidade de uma ponta a outra da
Abobada Escura, só mais duas conseguindo dar com a Toca de Esconder.
- Mas como é
possível?
- E de que
fogem elas?
- Estão
completamente cegas…
Só o Urso se
manteve caldo, de olhos levantados, concentrado em tudo o que estava a ocorrer
lá no alto.
Por fim já
não havia mais brilhantes a correr pela imensidão escura.
- Três. Só
três…
De súbito,
apareceu uma pequenina brilhante vinda da cauda da Toca de Esconder,
percorrendo o caminho até a mesma e desaparecendo dentro dela num dos seus cantos.
Ouviu-se um
suspiro colectivo.
- A Ursa,
minha mãe, tinha uma toca de esconder onde nós, as crias, nos escondíamos
quando ouvíamos ou cheirávamos alguma coisa. Era assim, tinha um caminho e uma
entrada. Depois de lá estarmos dentro, ela colocava-se a tapar a entrada. Nada
ali passava.
Ficaram
todos a olhar por momentos para o alto. Por fim o Texugo disse:
- Talvez
devêssemos chamar Grande Ursa à Toca de Esconder…
A Lebre
mirou o Urso de lado, e repontou:
- Ursa
Maior, acho que lhe fica melhor.
- O que é
certo é que aqueles quatro pequenos ficaram seguros, essa é que é essa!
- Ursa
Maior, parece-me bem!
E assim foi
que os quatro amigos continuaram a juntar-se para ver a Ursa Maior!
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