quarta-feira, 28 de outubro de 2020

COMEMOROU-SE A 27 DE SETEMBRO, O DIA MUNDIAL DO TURISMO (WTD), de Paulo Landeck

Comemorou-se a 27 de Setembro, o Dia Mundial do Turismo (WTD), apontando o tema deste ano para o Turismo e desenvolvimento rural - Precisamos novos rumos.
O Turismo de Portugal, refere a capacidade única do turismo, em “impulsionar o desenvolvimento económico” e não deixa esquecer possível oportunidade para as comunidades rurais, fora dos grandes centros urbanos.
Infelizmente, só depois de voltar a insistir na economia, refere a página alusiva à malfadada data, “a capacidade de promover e proteger” o” património natural e cultural”, sem esquecer a importância diferenciadora da identidade/autenticidade. Pois…é por aqui, que gostaria de ver sobretudo o Estado, mais empenhado!
Vou procurar não me perder em números nem estudos, que em larga medida, têm servido como cosmética, ou para justificar todo o tipo de atentados ao património natural e cultural, em nome do turismo, colocando-nos perante novos desafios e ameaças, até para com a referida “indústria”, como alguns gostam de lhe chamar (essa é precisamente a perversa lógica que podemos e devemos evitar, se quisermos tirar o máximo proveito do que os recursos têm para oferecer à sociedade).
A organização atribuída este ano pela OMT, a um grupo de países, e não a um Estado-Membro, espelha a importância internacional e carácter transfronteiriço do turismo. Eu gostaria de acrescentar, a tremenda responsabilidade, nestes tempos pandémicos, mas sobretudo de crescente crise ambiental, social, e humanitária.
O turismo, tem de ser útil ferramenta, não um cancro como revelado até aqui, instrumentalizado por mentes obscuras que exploram os recursos em benefício próprio (muitas vezes promovendo evasão fiscal, branqueamento de capital, precaridade, e por aí fora…), sem olhar aos serviços de ecossistemas, nem à forma como podemos melhorar a qualidade de vida das comunidades a quem, em última análise, os referidos recursos mais deveriam interessar/favorecer.
O turismo pode ser vital para as metas do milénio, se, e somente se, for orientado pelo prisma da sustentabilidade.
Já se percebeu há muito, que a economia só por si, promove: degradação, desigualdade, atraso, desperdício…entre outros erros que já estamos a pagar, e mais tarde pagaremos da pior forma.
Não podemos continuar com chavões de dois tostões, como sustentabilidade, ou planos e estudos atrás de mais planos e estudos, sem verdadeiramente trilhar novos caminhos, que sejam promotores do que de melhor possamos oferecer, cujos maiores benefícios possam ser alargados à maioria.
Falar de turismo sem politizar, é como ir à bola sem olhar ao esférico, o público, já todos sabemos o que lhe aconteceu, vítima da economia da crise
É por esse motivo, que quero referir a importância que o conhecimento científico possa ter, nas mais variadas áreas, quando aliado ao turismo também assente em sólida base de conhecimentos.
Como é possível, qualquer empresa iniciar actividade turística sem o mínimo de formação adequada na área?
A especulativa selva, sobretudo nos centros de maior afluência, deixou efeitos negativos à vista (alguns por chegar), vale de tudo quando deveríamos promover oferta de produtos e serviços de elevada qualidade, também por parte das PME.
É por essa via que poderemos e deveremos definir estratégias mais balanceadas, sustentáveis, focadas até mesmo no desenvolvimento local, como quem recupera azulejo, parte integrante de painel maior.
A Dark Sky Alqueva, premiada com o Sustainability Leadership Award 2020, ACQ5 Country Awards 2020, The Bizz Awards2020, Europe’s Leading Tourist Destination2020, Europe’s Responsible Tourism Award 2019, e os mais que seguramente se seguirão, representa bem como se ganham boas apostas por via de oferta diversificada assente no conhecimento, e na excelência. Já nos anos 90, eu tinha noção de como o stargazing poderia ser algo a trabalhar, também no turismo, em Portugal. A política de cuidada expansão, soma e segue (com imensas possibilidades, por certo).
Imaginem quantas empresas como esta não possam surgir, a actuar naturalmente em diferentes áreas do conhecimento ou da imaginação. Não copiem, revejam possibilidades, num país cuja maior riqueza deve estar precisamente na sua História, e no vasto património cultural e natural.
A Naturalist – Science&Tourism, surgiu como startup, segue no bom caminho, ao combinar tours culturais, com recolha de dados científicos (fazendo aqui um importante interface entre diferentes áreas, enquanto promove desenvolvimento multidisciplinar). Operam no Faial, com uma equipa multifacetada que combina biólogos/investigadores, com especialistas no turismo. A observação de cetáceos, em particular, conta com alguns bons exemplos, como a Terra Azul, em São Miguel, entre outras distribuídas um pouco por todo o país (de Sagres, a Setúbal, ou à Madeira, felizmente…). Isto, apesar de existirem empresas licenciadas a operar sem o fundamental conhecimento, nem controlo eficaz por parte do Estado (uma vez que lidam com recursos sensíveis, como a biodiversidade). – Facilitar o acesso aos que trabalham mal, é colocar em causa não apenas os recursos, como o bom trabalho feito por todos os outros.
No turismo industrial há muito a fazer, mas também bons exemplos, como o caso de S. João da Madeira, pela elevada qualidade nas visitas guiadas ao seu património histórico sem deixar de fazer a ponte com o turismo de negócios (Museu da Chapelaria, etc), numa região muito activa do país, em que a identidade regional pode até vir a reforçar o papel de qualquer marca.
E não só, os museus eram no contexto pré-pandémico, também crescente fonte de receitas, além de pólos de atractividade para possíveis visitantes. Com renovada museologia, ganha a comunidade em geral (quanto vale a educação e a cultura? Conhecer e preservar, para seguir o melhor caminho, o que se possa chamar de evolução. Sem olhar ao território, à História, à identidade cultural, aos desafios actuais, não iremos a lado algum).
Muitos dos mais positivos exemplos, gozam ou poderão herdar ligações a actividades que nos chegam de mais ou menos distante passado (algumas de boa saúde), das salinas, às termas (saúde), indústria corticeira, pesca, agricultura, ou minas…
Alguma da mais recente diversificada oferta, aproveita singularidade há muito existente (o surf em Portugal tem longos anos, o canhão, ainda mais…), mas refém da necessária evolução de mentalidades, como o caso das ondas da Nazaré, mostradas ao mundo por Garrett 'GMAC' McNamar, hoje uma realidade na Big Wave Tour - World Surf League (eventos). Recordo-me das discussões em Peniche, e como o surf passou de “desporto de miúdos” que nunca foi, para lucrativo negócio, e apelativo chamariz, reunindo hoje consensos e orgulho até por parte de muitos que o atacavam, como hoje dirigem esse mesmo desprezo à pesca, na sua tacanhez.
Quando penso no que temos à porta de casa, resultado de milhares de anos, quando não milhões de anos, ainda por valorizar devidamente, fico assombrado!
Foi muito angustiante para mim, a luta que se travou por Foz Côa quando havia evidências exemplos em Lascaux e por esse mundo fora, de como se pode valorizar o património (quando o dinheiro é entrave e meta para muita gente).
Como é possível, no séc. XXI, travarmos ainda duras batalhas como as de Carenque?! O absurdo do miopismo, ou mais provável conflito de interesses, da classe que nos deveria conduzir ao desenvolvimento sustentável, só é combatido pela educação e civismo, de quem vê na cultura, aliado maior. O Professor catedrático jubilado António Marcos Galopim de Carvalho não deixa que a idade lhe turve ampla visão, dá-nos mais uma, valiosa lição: escutem-no!
Penso novamente em Peniche, na dificuldade inicial que teve em aceitar o surf, na selvajaria que se tornou o turismo em Portugal (com todo o tipo de actores em cena, sem a preparação devida para oferecer o melhor contributo não apenas à economia, como também no campo ambiental e social). Penso como a pesca se tornou em muitos casos, no parente pobre, o que é completamente ilógico.
As nossas identitárias devem ser defendidas, das origens rurais, ao povo com longa história marítima.
O mesmo mar pode oferecer múltiplas valências, em que diversas áreas muitas vezes se encontram.
Se quero ter turismo de qualidade, com presente e futuro, é bom ter uma actividade piscatória saudável, pelo peixe que se quer de qualidade, pelo pitoresco, pela cultura, etc, etc e tal…
Vejo uma ânsia em tributar, deitar mão ao suor de quem se faz à vida, mas não vejo reforçada vontade, em implementar políticas, reforçar equipamentos, promover medidas, para o tão ambicionado desenvolvimento local, de forma homogénea (país descoordenado, de guerrilhas, e intrigas, divide para algumas famílias reinarem).
Quem ganha mais com isto?
Há lutas que devem ser de todos, num país que se diz virado para o turismo e para o mar.
Só a falar de mares e rios (incluindo os de dinheiro), poderia ficar dias a fios.
Como é possível os “grandes argonautas” não terem hoje um museu dos descobrimentos, depois de tanta polémica (e de dimensão mundial inquestionável)l?!
Na primeira vez que visitei a Noruega (apesar de ainda jovem), uma das coisas que mais me marcou foi o Vikingskipshuset, em Oslo. Não me imagino numa terra daquelas, sem pensar no mar…bem sei que em Portugal temos o Museu de Marinha, alguns núcleos dedicados ao mar e muito interessantes de N a S, incluindo ilhas, mas falta atribuir outra dimensão à oferta.
Devo recordar a importância do National Maritime Museum (em Londres) ou de tantos outros por esse mundo fora, como pode Portugal deixar de fora, algo dessa dimensão?
Os suecos deram-se ao trabalho de fazer o Vasa Museet, depois de resgar naufrágio.
Temos o Gil Eanes em viana, O Navio-Museu Santo André do excelente Museu Marítimo de Ílhavo, a Dom Fernando II e Glória em Cacilhas (tem o parente pobre ali ao lado, o submarino Barracuda, entregue apenas a mirones) …sinto que falta, e muito.
Volto aos tempos do bacalhau e recordo a lenta agonia do “Argus”, na Gafanha da Nazaré. O potencial enorme da “faina maior”, dos grande armazéns, como das conservas (com alguns núcleos muito interessantes), e do sal. Só por exemplo, na Grande Lisboa temos longo caminho a percorrer (Barreiro, Seixal, Almada, Lisboa)…o mais recente centro interpretativo, o “Bacalhau Story Centre”, contou com o valioso contributo do professor catedrático Álvaro Garrido, empresta renovado brilho à memória, mas não apaga o imenso património ao abandono por valorizar. O bacalhau da nossa mesa (do turismo gastronómico que há muito deveria ter reclamado parceria entre fornecedores/lojas históricas e a mesa posta ao turista, um pouco por toda a Baixa, onde a tradição mais se fez notar), é o mesmo da nossa História.
E será que o turismo religioso, deve passar quase exclusivamente por Fátima? Não haverá outra visão, até mesmo associada à História? Há um tímido despertar para tantas feiras e romarias, além de outras confissões, ou paganismo, que não deveremos deixar apagar….
Portugal não pode continuar a ser um país inculto, corrupto, promotor da incúria, negligente, que entrega todo o seu ouro a poucos, sem olhar amanhãs.
De que vale ter ideias e conhecimento, se o Estado canaliza fundos de forma leviana?
De que vale continuarmos a insistir nos maus algarves deste país? O Algarve, tem outros encantos, é tempo de os saber valorizar.
O caminho do favorecimento não permite explorar todo o potencial nacional. Gostaria de ver muitos mais casos de sucesso, pois significaria, um país de excelência para se viver, seguro, feliz, verdadeiramente livre, menos permeável a crises de todo o tipo.
É um completo absurdo, qual bala de canhão nos próprios pés, obuses apontados à cabeça, se prosseguirmos entre inverdades, ao sabor do marketing, da economia, dos interesses pessoais, assentes em disparates como a especulação imobiliária, negócios duvidosos como do golfe, dos cruzeiros, ou de todo o tipo de turismo de massas, com ou sem tuks e hostels. Não passam de atraso encapotado de “desenvolvimento” (além dos problemas associados, gentrificação, precaridade, criminalidade, desespero e subsequente violência).
Quando penso em turismo, não me quero perder somente nas páginas do Licínio Cunha, há tanto escrito e estudado, tanto por escrever, nas mais variadas áreas, a que o Turismo com T maior, pode e deve aceder.
O meu turismo é feito pelo património material e imaterial, com o claro propósito de valorizar, seja a saúde, o ambiente, a cultura...
Quantos mundos se entrecruzam no turismo?
Quanto valerá o turismo literário?
Quanto valerá o “dark tourism”(não gosto do termo português. Temos a cabeça de um homem num frasco, o coração dum rei numa igreja…e de fantástico, muito mais)?
Quanto valerá o turismo militar (por Elvas, e outras maravilhas que tais)?
Quanto valerá a paisagem na estação, e a paisagem da estação, o ímpeto criador, a inovação, ou a tradição?
Quanto valem os jardins e “palacetes de toda a espécie” espalhados por esse país fora?
Quanto vale um charco, ou uma rocha, o canto, uma lenda, o instrumento, um cemitério, o barco, uma universidade, ou uma peça e o teatro?
Quanto valem as históricas termas, ou as milhares de possíveis aventuras, em quase todo o território?
Quanto vale o negócio em segurança, a formação, e o congresso?
Quanto valem os moinhos-de-maré da minha terra, uma escultura, ou outra obra de arte?
Quanto vale um rio limpo, ou uma raça/variedade preservada, seja por via da pecuária/agricultura, seja no seu estado mais selvagem?
Quanto vale a biodiversidade constantemente atacada a régua e esquadro (a promessa de aeroporto aos franceses é só mais um exemplo)?
A promoção do consumo desenfreado, o turismo de massas, não entende o meio, deixa pesada factura, efeitos nefastos.
É preciso educar, agir em conformidade (estudos e estudiosos, não faltam). O problema é quando se trocam galhardetes sem valorizar mais que indivíduo A e B.
A comunidade tem de conhecer o seu património. A sucata de uns é o veículo clássico para outros.
Quanto ganharemos, se lavarmos a cara?! – Quem parte no final da corrida, pode ter a vantagem de evitar cometer os mesmos erros de quem segue na frente. Não acredito em falta de conhecimento, e negligência não é rara, mas não justifica tudo, nem de perto.
Quanto poderá valer se tivermos secretários, consultores e auditores íntegros, sem favorecerem os mesmos que nos assaltam os recursos em vez de os proteger, muitas vezes espoliando ainda mais o próprio Estado?! É assim no ambiente, nas pescas, no turismo, por aí fora…quem vai mitigar quando, como, onde e porquê? Quem mais ganha com os recursos de todos e de que forma?
A ética deve impor-se a quem planeia e define estratégias em qualquer área (a porosidade política é inadmissível), como tal, deve haver um quadro alargado, consensual no que respeita a conhecimento científico, que não pode estar entregue a economistas e juristas sem que todas as outras partes sejam ouvidas e tidas em consideração.
Só num país de loucos, Troia “vale mais” que toda a Baía de Setúbal e Arrábida…o mesmo país que pondera a expansão de pedreira num parque natural (mais política de pedra e cimento!).
Só num país dominado por interesses amplamente criminosos, contrários ao apregoado nacional, privatizamos recursos como quem compra um gelado ao amigo; criamos dourados condomínios, longe dos amontoados olhares citadinos; damos cabo do presente, e do futuro, e aplaudimos o sucesso individual de quem se diz empresário, quando em larga medida explora e arruína a coisa pública.
O turismo a todos diz respeito, ou deveria dizer, a bem do país, do novo mundo por alcançar.
Enquanto a maioria de nós é amontoada com vista para o rio, da margem que mais sente o coração, sujeitos a assaltos à mão armado e toda a forma de violência, o pior dos assaltos é consumado a cada dia, de fato e gravata, com a conivência dos mais sábios doutores e engenheiros, políticos e gente muito respeitosa (de sucesso). Neste mundo em convulsão, não se olha a meios para maior conforto…individual.
Não se trata de reforçar abraços ao eixo Rússia-China ou pela América do Norte (enquanto como pipocas e assisto ao filme), mas em que mundo queremos nossas casas, se no maior dos confortos, longe da vista dos pobrezinhos, ou onde se possa viver de forma racional, equilibrada, livre, com sentido de estar, hoje e amanhã.
Portugal precisa fazer a transição para o PRESENTE (com todos os desafios que isso implica), cumprir verdadeiramente Abril, sem olhar a um futuro auspicioso anunciado a monóculo, nem passado envolto em brumas.

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

FALTA DE EDUCAÇÃO, FRIENDLY FIRE, E FOLGUEDO, de Paulo Landeck

 


O que tem elevados custos para o país (e para o mundo), não são a implementação de aulas à distância, ou a mais urgente necessidade de reformularmos a escola que não pode continuar assente num paradigma há muito esgotado!
O que tem elevados custos para o país, e coloca seguramente nossas vidas em risco, é:
A gestão danosa dos fundos públicos em nome de polida imagem nacional, defendendo interesses alheios ao que se apregoa, de forma intencional (incompetência é outra coisa); as constantes injecções de capital nos bolsos dos amigos do BES, da TAP (impressionante como Frasquilho continua como lapa), das “Tecnoformas” (haverão muitas mais), do “mal menor” do BPN (segundo atestou actual Presidente desta República), das futeboladas e outras palhaçadas em que um ou outro Pennywise exercem poder sobre todos os outros; dos “Bragaparques” e “Expos”… e poderíamos ficar anos a fio, nisto.
Há todo um séquito de usurpadores das melhores linhagens, com um ou outro pato-bravo em vôo rasante, uma mentalidade que deveria estar há muito ultrapassada, como em parte, o português que propositadamente se me assiste.
– A Liberdade constrói-se nas premissas que nos são apresentadas.
O custo da corrupção para o Estado, até só foi estimado em cerca de 18,2 mil milhões de euros por ano, segundo dados de 2018 (vejam por exemplo orçamentos anuais para a Saúde, ou para a Educação.
Imaginem quantos orçamentos para a inconveniente Cultura (no país de Cristinas, bola, e Preço Certo), ou para o Trabalho, Solidariedade e Segurança Social – Ministério que só pode ser do trabalho mesmo, dado que o emprego é só para privilegiados. Mesmo assim, temos um IEFP, por exemplo, verdadeiramente surreal, além das muitas vaquinhas na formação de tudo e mais alguma coisa, completamente desfasadas da realidade, e que pretendem apenas alimentar…os formadores.
O mais ridículo?! - Muitas são entidades que fazem mesmo falta, se trabalharem para a comunidade, contextualizadas, por via da competência, o que é incompatível com quintinhas de amigos e familiares).
Mas imaginem agora, se pensarmos nos danos colaterais que irão seguramente surgir associados a toda essa teia de cumplicidades (ou cadeia alimentar) quando o dinheiro em falta for a necessária diferença (já o é…falta aceitação generalizada), com a maior das cumplicidades (alheia ao eleitor) nos dizem na cara, não haver dinheiro, e sermos os responsáveis por toda a desgraça que aniquila qualquer ideia de desenvolvimento (o que não deixa de ser meia-verdade!).
Temos um ensino público assimétrico, completamente vergonhoso nalguns casos do país (e mais não é, graças sobretudo à entrega dos professores, à insistência reivindicativa, à resiliência face ao vilanesco jogo de desgaste, com intenções claras (actos podem nascer antes de qualquer sílaba).
É demasiado grave abrir mão da democratização conquistada no ensino, se é que tudo não passou apenas de dotar escravos de melhores ferramentas (olhando à selvajaria no emprego) encapotado dessa mesma "dermocratização" (foi só um lift!).
Está em causa a liberdade de pensar para agir.
O aluno deve saber ler o mundo para participar na sua transformação, e esse mundo não se encerra nas 4 paredes da sala, por certo (muito menos nos ecrãs dos dumbphones, em casa)!
Qualquer ser vivo desenvolve muito mais suas capacidades durante o processo de crescimento, de modo criativo, descontraído, de forma lúdica, mas atento às questões/desafios que surjam do inesperado meio em redor, explorando o mundo pelo erro, pela obra inesgotável do que somos.
Não devemos permitir que impeçam nossas crianças de serem crianças, muito menos que roubem a descoberta da vida (a mesma da qual seu futuro depende). Além disso, entre adaptarmos o ensino em espaço físico adequado às necessidades das pessoas e do meio ambiente, e investir no ensino à distância, convém também que se faça um estudo energético, além de outros cálculos que possam estar em causa.
Talvez não seja difícil descobrir um sistema misto, em que muitas das disciplinas possam ter parte do acompanhamento à distância, sem deixar descurar sentido prático in situ, sempre que faça sentido, ou até pelas necessárias saídas em estudo, etc.
O papel do professor pode ser o de orientar, seduzir os alunos para o saber, para agirem na positiva transformação do mundo, compreendendo a herança natural e cultural,e relações de interdependência.
É preciso dotar as escolas para integrado contexto. Não me parece tão complicado, sobretudo num país como Portugal. Se deram importantes passos, noutras regiões bem mais frias, qual a razão para não optimizarmos os espaços de que dispomos (sobretudo em pandemia)? Qual a razão para não explorarmos o espaço público, ou criar sinergias com diferentes entidades a nível local, regional, ou noutro âmbito que possa surgir?
Podem faltar infraestruturas como pavilhões e afins por falha do tão famigerado investimento, mas adequar áreas abertas em tempo de crise, é assim tão complicado, em tempo de guerra?!
O que está em carência, é sobretudo a vontade política para adequar esses mesmos espaços ao séc. XXI – reformas exigem coragem que a conversa para o amanhã não alimenta (sempre as desculpas, estudos e planos.
Devemos ser caso ímpar em toda a Europa, no que respeita à aldrabice em tantos planos e estudos.
As universidades devem descontaminar, por obrigação ética/moral. Como?! Sancionando os corruptos, acusar e comprovar não basta, retirar títulos como quem excomunga, pois todos pagamos).
Mas, voltando à escola...
A quem não interessa que as crianças de amanhã sejam seres com maior ligação ao mundo que os rodeia? – Há escolas próximas de imenso verde, e/ou mar, com vasto património cultural associado, que podem e devem ser lidas, como perfeito quadro integrado na paisagem (mais uma vez, muitos professores, classe à qual tiro o chapéu, sabem disso, fazem por isso, quando não são castrados pelo poder hierárquico ou na falta de outros meios/faculdades.
Prefiro não falar dos desmotivados, cansados, muito menos dos que deveriam abraçar outras profissões…foco-me na maioria dos heróis com os quais me cruzo) …
O espaço em que nos encontramos, tem características distintas…são milhões de anos na transformação da paisagem, milhares de anos de adaptação humana, e produção cultural (as razões que me levam a gostar de Orlando Ribeiro, são as mesmas que me puxam a vasculhar Leite de Vasconcelos, ou tantas outras pessoas que foram e serão úteis).
Não vamos querer viver num mundo desprovido de experiências, além das virtuais. O resultado é capaz de não ser lá muito bom, a não ser para os que procuram refúgio nos seus pequenos paraísos, longe de tudo e de todos, em prístinos destinos.
Qualquer adaptação do ensino, ainda que influenciada por diversas escolas de pensamento, deve ter isso em consideração, para que o caminho seja sustentável, verdadeiramente multidisciplinar, que espelhe os desafios do mundo diverso, que nem só de economia vive o Homem, ou vou já ali relembrar velha História, pela mão de Alberto da Cunha Sampaio, uma vez que desta Ciência Económica (e de génios), ficam demasiados galhardetes, quando continuamos muito mal...
Adiante!
As ameaças que enfrentamos em termos de alterações climáticas, já são demasiado graves. Temos uma má gestão hídrica, afectada pelas referidas alterações que pouco ou nada fazemos por contrariar, dependente de políticas externas mas também internas, sujeita a exploração agrícola intensiva, ao absurdo imobiliário (como nos campos de golf e outros desfasados resorts, propiciadores de mau uso de escasso recurso em benefício do lucro alguns), e ainda conseguimos cravar mais ferro no féretro ao construir mais barragens que alimentam os senhores do betão e da construção civil, mas também, o já de si grave problema da erosão costeira com agravante que se conhece (e lá se lavam mais umas toneladas de areia em camiões, de umas praias para outras).
Vamos lá aos Serviços de Ecossistemas, quem usa o quê, de que forma, em proveito de quem, com que consequências?
A poluição é impactante nas nossas vidas, ao nível da saúde pública (como ignorar?!), da qualidade de vida…não pode continuar refém de inépcia, muito menos da crescente máfia verde que se alimenta sem qualquer controlo, por via de empresas privadas prestadoras de serviços de "sonsultoria" ambiental, ONGS e de outras entidades (mesmo em instituições públicas) à custa de milhões alheios (tudo bons rapazes!).
É avaliar as pontes entre conhecimento académico e desafios concretos no terreno, até para não descredibilizar o próprio conhecimento científico. Lá está Huxley novamente (ou Mary Wollstonecraft Shelley)...nunca subestimem qualquer área do conhecimento, todas fazem falta, pois geram soluções.
De pouco ou nada servem prístinos destinos, nem reservas, quando a maioria não cuida porque não conhece, ou não acredita.
Será que estamos a criar reservas para outros índios?! – Desta feita, sem doenças, nem miséria, só qualidade de vida, ao estilo Mónaco.
E se pensarmos na falta que faz o dinheiro desviado, pois é disso que se trata, é fácil compreender as promovidas divisões entre extremas esquerdas e direitas, enquanto a (In)segurança Social ameaçar colapsar, sem empregos nem saúde pública à vista. A mesma Saúde Pública, que daria seguramente melhor uso a esses dinheiros, para colmatar falhas das quais todos ou quase todos, dependemos (de uma forma ou de outra, até pela violência que se possa vir a gerar, mas que infelizmente só bate à porta dos que a vivem);
Sempre em último, o que deveria vir em primeiro: a Cultura, sem a qual, não teremos verdadeira inovação, nem ambicionado Desenvolvimento Sustentável (com aposta no turismo de massas, nos cruzeiros, e outras coisas que tais…não passa de miragem…). A Cultura, que nos esbofeteia há séculos, pela capacidade crítica, criativa, social...deitada na valeta, mas que ainda assim arrebata prémios, em nome do mesmo Portugal de 70, do século de Quental (se a tirania cai de fortificada cadeira, o filósofo fica-se pelo banco de jardim!).
Quantas lágrimas de Portugal, não valerão sol, qual ouro sem brilho?!
Estou cansado, sem paper que me assista, dirijo-me ao apoio científico, o tal em falta, mas que deve (devidamente salvaguardado) trazer retorno a quem investe, sem esquemas nem boleias, sobretudo, quando esse alguém, é o próprio Estado.
No mundo ao contrário, os desgraçados procuram voz na ilusão da extrema-direita, como quem vai à seita à procura de amparo, e muitos dos “Ches Guevaras” filhos de supostas esquerdas, são dos que melhor vivem (como a outra direita “moderada” que tanto criticam, daí ferocidade de extremo a extremo); não se cansam de mostrar brincos, barbas, tatuagens de moda, e toda a cultura que dizem absorver entre gritos de revolta. Seguem a coca nas vielas do trending, atentos ao design, enquanto fumam a bolota cagada do cu de qualquer indigente dum longínquo bairro social. Pouco ou nada sabem o que é sentir Catarina Eufémia (como há dias notei, nas sábias palavras de amigo meu). Muitos nem o pensam, mas contribuem para os males que tanto apregoam, o que nem é difícil de descobrir, e dispensa tese de doutoramento!
Quanto ao centro, não tenho palavras, sendo tudo menos moderado e justo, dá-me asco, abstenho-me de prosseguir análise por aí, até que honesta depuração seja feita.
Não tenho no entanto dúvidas, que o futuro deveria passar por uma Ágora que pudesse confluir todos os rios, em são debate, por mais que nos custe ouvir.
Para discordar, devo querer e saber ouvir.
Não posso ignorar milhares de seguidores de um partido ou de outro, por mais que me custe.
É preciso procurar entendimentos, depois de auscultadas as razões. Não excluo ninguém ao diálogo. Sei que a razão dum extremo, pode ser a oposta razão de outro, quando não para dividir uma vez mais para que outros possam reinar.
Quem caminha sozinho, sente-se perdido. Quem caminha sempre com a mesma camisola, apenas vê, e verá, o que lhe interessa.
Este é o mesmo mundo em que ficamos bloqueados na faixa de rodagem por alguém que resolve atender chamada e deixar todos os outros em suspenso, não cuidando de nada nem de ninguém, nem tampouco de si…quando todo o pequeno gesto conta, num navio prestes a fundar em capitaneada “má sorte”.
Na impossibilidade de resgatar ética ao Estado, e se é da natureza humana, ter a criminalidade de mãos dadas com quem nos governa, então temos de convencer os mafiosos que há necessária mudança a ser feita, a bem de todos...antes que seja tarde.
Com a Natureza não se brinca, do Afeganistão ao Sudão, até os terroristas já entraram em conversações, seja pelas cheias, ou pela pior das secas!
De que estamos à espera, que maiores males nos batam à porta, mesmo quando já corremos atrás do prejuízo sem contar toda a verdade à audiência?
A oportunidade, foi-nos oferecida. Voltaire sabia quanto pode um terramoto.
Dedico este texto, ao meu Pai Agostinho da Silva, sempre comprometido com a vida; meu irmão Morin (aleluia, irmão!); a cândido Voltaire; e ao beatificado seja, Paulo Freire.
Perdoem-me todos os outros que não posso mencionar, por se encontrarem em layoff neste paupérrimo texto que vos deixo (grato pelo livro, Aleixo!). Além disso, procuro escapar ao pagamento dos louros em questão. Fico pior na fotografia, mas sai mais barato.


sábado, 17 de outubro de 2020

007: SEM TEMPO PARA MORRER

 Daniel Craig assume, pela 5ª e última vez, o papel de James Bond no 25º filme da saga 007, que chega aos cinemas nacionais a 

19 de novembro






sexta-feira, 16 de outubro de 2020

EM DEBAIXO DO MONTE, de Anita Dos Santos

 


Ficou enjoado de novo, que nem um cabaço… Desta vez ainda foi pior!

Quando foi capaz por fim de abrir os olhos, estava deitado numa cama, sem saber como ali tinha ido parar.

Experimentou colocar os pés no chão, o quarto não ondulava assim tanto…. Era capaz de se pôr em pé! Aquilo ali ao fundo era uma porta? Onde iria dar? Era tudo uma questão de lá chegar.

Deu um tombo para a direita, bateu numa mesinha, porque havia de estar plantada uma mesa no meio do caminho? Depois deu três passos em frente e mais outro tombo para a esquerda, estaria a porta assim tão longe?

Por fim lá chegou à porta com um suspiro e uma colecção de nódoas negras, mas as pernas estavam mais firmes a cada passo que dava.

Abriu a porta, e encontrou-se num corredor, sem saber para que lado se dirigir. Olhou em volta e pareceu-lhe estranho que o corredor estivesse bem para a sua altura.

Mas onde é que estava, e onde estavam os outros, onde estava toda a gente?

Resolveu seguir o corredor pela esquerda e ver onde ia dar. Ao longo do corredor foi encontrando mais portas, mas todas elas se encontravam fechadas. Por fim começou a ouvir vozes, a apertou o passo.

O corredor fazia uma curva, e após esta, Vicente deu com um balcão com escadarias de ambos os lados. As vozes vinham da sala em baixo. Chegou-se ao balcão e espreitou para ver o que o aguardava.

As vozes calaram-se e todos que se encontravam na sala estavam com os olhos postos no balcão e no Vicente. E era muita gente.

Era uma sala grande, redonda, com uma mesa comprida ao centro rodeada por cadeiras e bancos, todos eles ocupados. Numa das paredes da sala estava uma enorme lareira onde estalava um lume acolhedor.

Não conseguia reconhecer ninguém à primeira vista, até dar com os olhos no André, que se encontrava sentado junto a uma cabeceira da mesa. No banco ao lado dele, encontrava-se um jovem ruivo com um cabelo que lembrava uma labareda de chamas, e cujas bochechas e nariz pareciam ter sido polvilhados com canela, tal a quantidade de sardas que os enfeitavam. O que chamava a atenção para ele, no entanto, não eram nem a cor dos seus cabelos nem as suas elegantes e pontiagudas orelhas, mas sim a sua expressão travessa, de quem “se já não fez, está para fazer”. 

Na cabeceira da mesa e a liderar aquela assembleia, encontrava-se um homem enorme que deixou o Vicente estarrecido e de boca aberta. Foi descendo as escadas, devagar sem tirar os olhos dele, e sem acreditar no que via.

- Ehehe! Ficaste sem fala? Olha que não costuma acontecer a quem vem “pra” Debaixo do Monte! – O tom era claramente de mofa.

- Mas o que vem a ser isto? Eu encolhi?

 

In “Crónicas de André e Vicente – O Bosque dos Murmúrios”


O Sabotador de Auschwitz, de Colin Rushton / OFICINA DO LIVRO - Tradução de Isabel Pedrome

 Nas livrarias a 27 de Outubro



Em 1942, o militar inglês Arthur Dodd foi capturado pelo exército nazi e levado para um lugar distante e ermo. De início pareceu-lhe uma enorme quinta onde ele e os companheiros seriam pelo menos bem alimentados enquanto aguardavam pelo fim da guerra – mas estava engando. O nome desse lugar era Auschwitz.

O jovem soldado foi colocado na zona do campo de concentração onde várias empresas alemãs, muitas ainda hoje existentes, produziam equipamento indispensável ao esforço de guerra do Terceiro Reich. Faziam-no com recurso ao trabalho escravo dos prisioneiros, que eram seleccionados à chegada pela famigerada equipa do Dr. Mengele e depois alvo de uma violência brutal e constante.

Foi neste clima de hostilidade extrema que judeus e britânicos arriscaram a vida a ajudar-se mutuamente, a transmitir informações para o exterior, a planear fugas e, acima de tudo, como nos conta Arthur, a sabotar a produção do campo.



quinta-feira, 15 de outubro de 2020

CRIANÇAS PERDIDAS, de Catherine Bailey / ASA - Tradução de Ana Saldanha

 Nas livrarias a 31 de Outubro




Em setembro de 1944, a Gestapo invade um palazzo rural italiano, prende uma mulher e leva os filhos dela, de dois e três anos.


A mulher é Fey Pirzio-Biroli, filha de Ulrich von Hassell – diplomata alemão e importante elemento da Resistência alemã, executado dias depois da tentativa falhada de assassinato do Führer. Agora, Hitler está a levar a cabo a mais cruel das vinganças, atacando, separando e destruindo as famílias de todos aqueles que conspiraram contra ele.
Levada de campo de concentração em campo de concentração, Fey vai conhecer a verdadeira dimensão e os horrores do Holocausto. Sem notícias das crianças, resta-lhe a esperança de um dia escapar às garras da máquina nazi e reunir a sua família. Mas o destino dos seus filhos é uma incógnita. Mesmo que estejam vivos, poderão ser encontrados e identificados na vastidão de uma

Europa destruída?

Usando a voz da própria Fey – através de cartas, entradas de diário e recordações – Catherine Bailey conta-nos uma história esmagadora de sacrifício e, acima de tudo, resistência…



quarta-feira, 14 de outubro de 2020

HANG LOOSE, ONDAS E TEMPESTADES, de Paulo Landeck

 

Depois de uma semana, no mundo do surf, marcada pela proeza de Maya Gabeira ao conquistar o Red Bull Big Wave Awards XXL 2020, com uma onda de 22,4 metros, segundo anúncio oficial da Liga Mundial de Surf (WSL)…só posso dizer, que o surf feminino volta a estar em destaque pela positiva, fazendo por merecer a boa e justificada onda, que terá colocado o "prize money" feminino igual ao da competição masculina, além de condições mais justas na calendarização, e de outros diferenciadores detalhes conquistados!
Se nos anos 70 a tenista Billie Jean King travou a sua luta pela igualdade de género, ao mostrar que também no desporto essa injustiça deveria ser intensamente debatida…décadas passadas, há ainda muita assimetria para se esbater, até pela desejável evolução, nas mais variadas modalidades.
Neste sentido, o surf mundial, persegue o estatuto de case study, pois seguramente as condições estão criadas para uma base sólida. Poderemos vir a elevar a competição feminina a outro patamar, também em termos exibicionais, uma vez que as condições (e apoios) têm hoje um perfil muito diferente do que tinham há pouco mais de 2 anos atrás. E porque não promover eventos mistos que possam forçar outras batidas no lip? – Afinal de todas as contas, o surf além do poderoso marketing, e da economia, continua a ser uma filosofia de vida, um desporto com uma energia positiva muito peculiar, que honra ascendentes e descendentes de Duke Kahanamoku, julgo que ainda sem necessidade de ver cultura resgatada pelo eterno Edward Ryan Makua Hanai Aikau, e restantes tripulantes do Hokule'a. Para mim, o surf é pura vida, adrenalina, meditação, cultura, filosofia, e arte…mas eu, sou suspeito, freesurfer até morrer!
A dimensão política, cultural, e social do desporto enche-me noutra medida, além do olho que quase tudo ou nada vê. Há um ser humano em cada atleta que poderá brilhar para público desigual (Qual terá sido a influência de Francisco Geraldes no que respeita a hábitos de leitura, sobretudo junto dos jovens amantes do futebol, aquando da sua recente passagem pelo Sporting?). A Fundação José Saramago esteve atenta. Julgo que se poderia ir mais longe, poderia alguém do Governo ter-se lembrado de associar o atleta à promoção do Plano Nacional de Leitura...por exemplo (o seu exemplo, foi realçado em diferentes meios de comunicação social repetidamente, e até por rivais...o que diz bem, dos bons hábitos que se criam).
Sabe-se que o acesso a conteúdos, é hoje global (até mesmo à distância de um click), apesar de condicionalismos de variada ordem afectarem regiões e seus principais intervenientes, incluindo aspectos organizativos, além dos jogos de interesses alheios ao próprio espírito desportivo.
De modalidade para modalidade, podem certos actos ser mais ou menos impactantes, mas nunca causar indiferença. – Aos satélites não escapam (juntemo-nos, a eles!)
Algumas histórias são simplesmente arrebatadoras à escala planetária, como a do Olympische Sommerspiele de 1936.
Hoje, gosto de imaginar como seria, se Jesse Owens e as suas quatro medalhas de ouro mandassem calar Adolf Hitler no Estádio Olímpico de Berlim…com um dancehall To Di World, à Usain Bolt - para Sports Illustrated registar: one love, one heart, one soul!
Outros históricos episódios, conquistaram títulos de autêntica mancha negra na política nacional (final da Taça de Portugal de 1969, no Jamor, em plena crise estudantil), de incómodo resultado (e poderia ter sido pior!), como poderoso reflexo do desconforto social, e verdadeira ameaça ao estado das coisas. – Quando mexemos com o âmago do ser, nada parece acontecer por acaso, todo o grito pode ser inesgotável fonte de vida, independentemente do resultado final.
Poderíamos folhear páginas e páginas, por esse louco mundo fora, daqui e dali, ao longo da História…mas tiremos ilações do momento que teimamos viver.
Recentemente, apanhei no ecrã um pequeno grande gesto de revolta enquanto seguia o Tweed Coast Pro feminino, "madrugada" afora: uma surfista profissional australiana, ser humano acima de tudo, resolvera shapear seu statement sem se ficar pela resina da prancha; de punho erguido e cerrado, ajoelhada em respeito ao inaceitável número de vítimas de aberração que não reconhece fronteiras, prescindiu de não tão preciosos minutos da sua bateria competitiva, quanto a eternidade do sofrimento humano: “Black Lives Matter!”
Se eu já estava muito impressionado, apesar da expectável qualidade, com a solidez do surf apresentado anteriormente por Stephanie Gilmore (e que me manteve acordado), melhor fiquei, ao assistir ao silencioso grito de revolta por parte de Tyler Wright. – O meu enorme shaka para ela!
Não pude deixar de mergulhar na grande barreira, a do mais contemporâneo racismo da Austrália. Embora controverso, penso no entanto que a raiz histórica, não pode desaprender anteriores contextos, até mesmo pré-coloniais (se pensarmos noutros pontos do globo). Preocupa-me sobretudo o passado recente, chagas contínuas.
A humilhação e crimes violentos a que têm sido sujeitos, sobretudo os aborígenes, originaram graves problemas de alcoolismo, além de elevadas taxas de suicídio. Não devemos esquecer também os imigrantes, pois emprestam uma variedade multicultural a um debate que deve ser visto por outro prisma.
Mais uma vez, volto a frisar, as desigualdades sociais, as más políticas, estão na origem do cancro. Dividir para reinar, continua a ser a forma mais fácil de exercer poder, livre da maior das ameaças: a união de todos os lesados.
Foi apenas em 1999, que o parlamento australiano aprovou, uma proposta do senador aborígene Aden Ridgeway e do então primeiro-ministro John Howard, para uma Moção de Reconciliação, devido à mais terrível nódoa, o que me parece ter sido um passo sobretudo digno, uma vez que não sabíamos, e continuamos sem saber, o que foi, ou é, civilizado…podemos no entanto, evoluir…
Como é possível sequer entender, qualquer atentado contra a (provavelmente) mais antiga civilização ainda na Terra (que se conheça)?! – A educação e cultura, só podem estar em falha.
A taxa de suicídio, sobretudo de jovens meninas na casa dos 20 e qualquer coisa, na Austrália, é de uma melancolia assustadora. Quantas dessas meninas, jamais puderam sequer sonhar, apanhar a onda mais justa, em paz?
Infelizmente, não conheço lugar no Planeta Azul, onde o Homem possa surfar despido de preconceitos, em sintonia com o verdadeiro espírito Aloha!
Na Comunidade da Austrália, em que o surf consta como a 17ª actividade física e desportiva mais importante do país (segundo dados governamentais de 2019), a cultura do surf inerente à sua filosofia, pode com toda a certeza, representar mais uma poderosa voz a pugnar pela diferença.
Esta é uma maré, contra a qual todos podemos e devemos remar onde quer que nos encontremos, por pior que seja a tempestade. Nada nem ninguém, conseguirá apagar pontuado registo dos que surfam a maior onda de todas, pelo bem-estar da humanidade!