Ficou enjoado de novo, que nem um cabaço… Desta vez ainda
foi pior!
Quando foi capaz por fim de abrir os olhos, estava
deitado numa cama, sem saber como ali tinha ido parar.
Experimentou colocar os pés no chão, o quarto não
ondulava assim tanto…. Era capaz de se pôr em pé! Aquilo ali ao fundo era uma
porta? Onde iria dar? Era tudo uma questão de lá chegar.
Deu um tombo para a direita, bateu numa mesinha, porque
havia de estar plantada uma mesa no meio do caminho? Depois deu três passos em
frente e mais outro tombo para a esquerda, estaria a porta assim tão longe?
Por fim lá chegou à porta com um suspiro e uma colecção
de nódoas negras, mas as pernas estavam mais firmes a cada passo que dava.
Abriu a porta, e encontrou-se num corredor, sem saber
para que lado se dirigir. Olhou em volta e pareceu-lhe estranho que o corredor
estivesse bem para a sua altura.
Mas onde é que estava, e onde estavam os outros, onde
estava toda a gente?
Resolveu seguir o corredor pela esquerda e ver onde ia
dar. Ao longo do corredor foi encontrando mais portas, mas todas elas se
encontravam fechadas. Por fim começou a ouvir vozes, a apertou o passo.
O corredor fazia uma curva, e após esta, Vicente deu com
um balcão com escadarias de ambos os lados. As vozes vinham da sala em baixo.
Chegou-se ao balcão e espreitou para ver o que o aguardava.
As vozes calaram-se e todos que se encontravam na sala
estavam com os olhos postos no balcão e no Vicente. E era muita gente.
Era uma sala grande, redonda, com uma mesa comprida ao
centro rodeada por cadeiras e bancos, todos eles ocupados. Numa das paredes da
sala estava uma enorme lareira onde estalava um lume acolhedor.
Não conseguia reconhecer ninguém à primeira vista, até
dar com os olhos no André, que se encontrava sentado junto a uma cabeceira da
mesa. No banco ao lado dele, encontrava-se um jovem ruivo com um cabelo que
lembrava uma labareda de chamas, e cujas bochechas e nariz pareciam ter sido
polvilhados com canela, tal a quantidade de sardas que os enfeitavam. O que
chamava a atenção para ele, no entanto, não eram nem a cor dos seus cabelos nem
as suas elegantes e pontiagudas orelhas, mas sim a sua expressão travessa, de
quem “se já não fez, está para fazer”.
Na cabeceira da mesa e a liderar aquela assembleia,
encontrava-se um homem enorme que deixou o Vicente estarrecido e de boca
aberta. Foi descendo as escadas, devagar sem tirar os olhos dele, e sem
acreditar no que via.
- Ehehe! Ficaste sem fala? Olha que não costuma acontecer
a quem vem “pra” Debaixo do Monte! – O tom era claramente de mofa.
- Mas o que vem a ser isto? Eu encolhi?
In “Crónicas de André e Vicente – O Bosque dos Murmúrios”
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