Nanda saiu de casa e
dirigiu-se para o mercado de trocas, onde sabia ir encontrar Nela.
Ao chegar à porta do
curtidor parou e espreitou para dentro. Como já esperava, era ali que a Nela
estava.
Entrou, como que por
acaso, e cumprimentou:
- Bom dia para ti, mestre
curtidor!
O curtidor, homem de
grande estatura, mas com delicadeza de mãos, deu um salto para o lado, apanhado
de surpresa.
- Bom dia também para ti,
Escolhida. Auspicioso seja o dia em que tenho as duas Escolhidas na minha casa.
- Ah! Estavas aí. Não
tinha reparado. Como é que estás, Nela? – Nanda virou as costas ao curtidor
para esconder o sorriso.
- Vou muito bem, obrigada
por perguntares. – Respondeu-lhe Nela educadamente, estando de frente para o
curtidor, não pôde retribuir a careta.
- Vou olhar até lá ao
fundo enquanto acabas o negócio aí. – E Nanda esgueirou-se para o fundo da
venda, fazendo sinal a Nela.
Esta continuou a fazer
negócio com o curtidor, a quem tencionava comprar umas botas para oferecer ao
André.
- Mas então mestre, tem
realmente a certeza de que estas ficarão bem ao meu rapaz?
- Certezinha absoluta,
Escolhida. Palavra de mestre curtidor. E repare que pele macia que têm, isto
nem se vai sentir nos pés, digo-lhe eu que sei do ofício!
- Bem, se me assegura
realmente que assim é…, mas nada de andar a dar com a língua nos dentes, que
isto é para ser surpresa, e sei lá eu quando é que ele vem por cá!
O mestre, com a sua
enorme estatura, encolheu-se perante a pequena mulher, com um certo ar de
ofensa no rosto.
- Escolhida Nela, em
todos estes anos que me conheces, nunca a minha boca se abriu indevidamente em
alturas impróprias, para dizer aquilo que sabia, e que não devia dizer. Sei
quando devo estar calado.
- Não te quis ofender meu
amigo, mas os tempos não estão fáceis, muito pelo contrário. Todos nos devemos
acautelar.
- Compreendi-te. Podes
ficar tranquila.
Virou as costas e
dirigiu-se ostensivamente para o lado contrário àquele onde se encontrava
Nanda.
Nela de imediato foi ter
com ela.
- E então, sabes de
alguma coisa? Já há novidades deles? – Perguntou, assim que se acercou da
amiga.
- Nada, não sei de nada,
e esta falta de notícias está a dar cabo de mim.
Nenhuma delas primava
pela paciência, no que dizia respeito ao bem-estar dos seus filhos, e o que se
estava a passar na Assembleia do Círculo dos Sete era sinónimo evidente de que
a presença dos dois jovens se tornava essencial na cidade.
E o Mensageiro sem dar
sinal de vida!
- Viste alguma coisa nas
taças? – Perguntou a Nanda.
- Não vi mais nada que já
não tenha visto. – Respondeu Nela dando a volta às prateleiras, e mandando a
trança para trás das costas com um piparote.
- Repete-me de novo o que
viste, por favor. Pode ser que te lembres de algo novo.
- Vêm os três de caminho.
E trazem mais com eles. E são esses mais que não consigo ver nas taças. Já
olhei uma e outra vez… Também eu pensei o que estás a pensar. Olha, se calhar
chegou o momento de aprender o ensinamento do Ulmeiro “A paciência é uma virtude “, e não há
mais nada a fazer!
- Pois, sempre tive
dificuldade com esse ensinamento…
In “Crónicas de André e Vicente – A Cidade das Brumas”
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