Texto: Isabel de Almeida | Jornalista | Crítica Literária
Aconteceu no Verão é um romance histórico escrito de forma brilhante. A acção decorre nos Estados Unidos, num local ficcionado pela autora, mas baseado num local real e com referência a uma terrível tempestade que, em plenos anos 30, causou muitas perdas humanas.
Em Rhode Island, 1938, Lily Dane passa férias na residência estival da família, na companhia dos pais e da sua pequena irmã Kiki, reencontrando-se com fantasmas do seu passado recente, ao ser surpreendida pela chegada de Budgie Greenwald [em tempos a sua melhor amiga da juventude] e de Nick Greenwald [o grande amor de Lily], um casal que não é bem aceite pela comunidade local, devido ao facto de a sua ligação ter ido contra todas as expectativas, sendo conhecida a paixão entre Lily e Nick.
A alta sociedade de Nova Iorque reúne-se religiosamente naquela pequena localidade, sendo um local de encontro habitual o Clube de Seaview, onde decorrem jantares, jogos e outros eventos sociais, sob a supervisão apertada da rígida Senhora Hubert, que dita as regras do politicamente correcto e aceitável naquele contexto.
Lily leva uma existência algo monótona, focada na sua pequena irmã Kiki, à qual cuida como se de de uma filha se tratasse, deixando no ar uma ambiguidade quanto à ligação familiar de ambas. A grande confidente de Lily é a sua tia Julie Van der Wahl, uma socialite arrojada, que se notabilizou por alimentar as colunas de escândalos, tendo-se divorciado do Advogado Peter Van der Wahl, e vivendo cada dia intensamente, numa atitude carpe diem e sem dar oportunidade de qualquer interferência no seu modo de vida bastante independente, sendo uma personagem bastante forte e com a qual facilmente empatizamos, por ser bastante directa e frontal na sua abordagem à evidente hipocrisia do meio onde se move.
Curiosamente, apesar de se ir denotando que algo não ficou totalmente resolvido na relação entre Nick e Lily, estes convivem socialmente e de forma próxima, perante o regresso de Nick e Budgie a Rhode Island, mas é nítido que Budgie é uma mulher bastante instável, fútil e manipuladora, que irá mesmo arrastar a ingénua Lily para uma relação amorosa com Graham Pendleton, um jogador de Basebol que fazia também parte do seu grupo de amigos dos tempos de estudantes.
Nick é um homem íntegro, honesto, assume compromissos morais, ainda que com tal atitude deixe de ir atrás do que realmente deseja para si mesmo, e para a sua felicidade.
Gradualmente, o leitor vai assistindo ao desenrolar da trama, com diversos segredos e peripécias que se encontram envoltos em suspense, tornando a leitura do livro verdadeiramente compulsiva, numa ânsia em crescendo de desvendar os mistérios que envolvem a vida dos nossos protagonistas.
A narrativa vai alternando o passado recente [1931] e o presente [1938], dando-nos a perspectiva da evolução das personagens, até ao desenlace final, marcado por momentos de elevadíssima tensão psicológica.
Incrivelmente romântico, intenso e com um ritmo bastante acelerado, esta obra literária traça-nos um retrato da alta sociedade norte-americana dos anos 30, ainda no rescaldo da crise de 1929, que deixou um amargo rasto de mudança numa prosperidade que tinha algo de muito ilusório, como a história mundial viria a demonstrar, pelo que encontramos a junção perfeita entre ficção e contexto histórico e social, que se revela verdadeiramente fascinante para os leitores de romances históricos.
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