Livros que li.
Há livros que nos ficam na memória, por vezes até, no coração. Há livros dos quais podemos falar e explicar as razões pelas quais nos conquistaram, e outros que apenas sentimos e nos transmitem sensações difíceis de explicar. A leitura transporta-nos a outros mundos, outras vidas, algumas que desejaríamos ter vivido e outras que nos obrigam a olhar para dentro de nós mesmos. Há livros com os quais aprendemos a usar a língua e expor as nossas ideias, outros proporcionam aventuras, contam histórias que, mesmo sabendo que nunca será nossas, dão muita satisfação.
Dos livros que li passo a mencionar três. Um deles me acompanha há quarenta anos e do qual realizei várias leituras.
Trata-se de “O Admirável mundo Novo”, de Aldous Huxley. Publicado em 1932, considero-o um romance premonitório. À época da sua publicação era ficção científica especulativa, uma distopia onde a reprodução artificial, a manipulação, o controlo da população, aconteciam. Onde a palavra mãe e amor eram palavras obscenas. Ter filhos pelo método natural era crime. Onde a felicidade era encontrada através de um comprimido rigorosamente administrado e a vontade dos seres anulada.
Como referi, li por primeira vez há uns quarenta anos, nesse então tudo era ficção mas, infelizmente, tenho vindo a comprovar que tudo o que ali está escrito tem sido realizado e ido muito mais além. Podia falar deste livro durante muito tempo, mas vou apenas aconselhar a sua leitura. Escrito como um romance, com linguagem simples e fácil de entender.
“Amor em Tempos de Cólera”, de Gabriel Garcia Márquez, é um livro que faz parte dos meus preferidos. Aliás, Garcia Márquez é um dos meus autores preferidos. Este romance em particular me transporta aos lugares da minha infância e, ao mesmo tempo, à minha própria passagem do tempo, aos amores perdidos.
É a história de um amor ao longo da vida, da espera, um amor que apenas se concretiza já na velhice, quando estes amantes estão em decadência e ainda assim, amam. Com o estilo maravilhoso de Garcia Márquez, vale a pena ler!
Impossível não falar de José Saramago, e do maravilhoso “Memorial do Convento”. Saramago é, sem dúvida, o meu autor mais apreciado entre os portugueses e, o meu favorito entre todos. Memorial do Convento é obra mestra, uma maravilha da literatura. A história que nos conta, os amores de Baltazar-sete sois que, sem a mão esquerda, ajuda o padre Bartolomeu a construir a passarola, e Blimunda - sete Luas, a mulher que podia ler as pessoas por dentro. Estes três personagens " simbolizam o sonho, a liberdade de amar e de acreditar para lá de todas as evidências, apresentando-se como o reverso de uma época onde o rei e os clérigos subjugam o povo para o cumprimento de um projecto megalómano."
Lamento que Saramago não seja apreciado como devia no nosso país, enquanto é estudado e apreciado um pouco por todo o mundo. E que os seus livros sejam lidos por obrigação, no contexto de escola, apenas.
Há outros livros e outros autores, como Valter Hugo Mãe e O Filho de Mil Homens, uma enorme surpresa para mim, Mário Benedetti, maravilhoso e, recentemente, Juan Gabriel Vásquez, uma bela descoberta. Há muitos mais, novos autores portugueses a quem lhes deve ser dada a oportunidade de mostrar o seu talento. Mas, o que importa é a leitura, ler para aprender, ler para viver. Entre os meus desejos de Natal, está um para todos vós: leiam, desfrutem!
O Natal é uma época propícia à união, um tempo em que o coração transborda de bons sentimentos e desejo de paz. O nascimento de Jesus significa esperança e, no tempo em que vivemos nunca precisamos tanto dela. A Esperança.
Mantenhamos vivos esses sentimentos ao longo do ano, para que a vida seja essa paz que parece desejarmos apenas nestes dias assinalados.
Para os leitores da Nova Gazeta, para todos os leitores e amigos, desejo um santo e feliz Natal. Que o amor e a esperança se mantenham sempre!
Feliz Natal!
Maria Cecília Garcia
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