quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

DIVULGAÇÃO | ESTRANHA FORMA DE VIDA, de MARIA CECÍLIA GARCIA | EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA

 



Eu era teimosa e alegre, tinha uma grande capacidade de me abstrair e de apaziguar o sofrimento. Iria resistir, qual erva daninha que, depois de espezinhada, teima em renascer. A vida não era um oceano pacífico e, para sobreviver, decidi que havia de ser feliz. Sabias que havia dentro de mim um ser livre e que nem tu, nem ninguém, me roubaria essa liberdade. No entanto, vacilei muitas vezes, não imaginas quantas vezes quis desistir. Nos momentos de angústia, olhava-me ao espelho, esbofeteava os pensamentos tristes e procurava de novo o brilho dos meus olhos. Era isso o que te frustrava, saber que, depois de tudo, depois de pensares que me tinhas anulado, eu renascia livre como a Fénix. Mas ninguém é mais irremediavelmente escravizado, dizia Goethe, do que aqueles que acreditam que são livres. Eu precisava de ser feliz, e se a felicidade não existisse, inventava-a. Agora que penso bem, era uma espécie de loucura!


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