O início de um novo ano corresponde, para mim, a uma sensação agridoce cada vez mais acentuada com a idade e com a nova realidade que vivenciamos e que, juro, sempre considerei ser apenas possível entre as páginas de um livro distópico, género literário que, confesso, nem sequer vem sendo dos meus preferidos.
Mas ironicamente, cada um de nós se transformou em 2020 numa personagem distópica em regime de "voluntariado à força"!
E qual a razão do agridoce da mudança? Pois bem, é de bom tom, politicamente correcto e tradicional pensarmos e até fazer registo para memória futura das clássicas resoluções de ano novo, e aqui sorrio ao recordar o início do livro " O Diário de Bridget Jones", de Helen Fielding onde encontramos das mais hilariantes listas de resoluções de mudança para o novo ano. Mas talvez porque gosto de me saber uma rebelde, sempre preferi não ficar reduzida ao óbvio, ao clássico, ao convencional e tradicional, assim, receio muito arriscar deixar registo de coisas que gostaria de fazer em 2022, porque se antes cada novo ano era, essencialmente, uma oportunidade de evoluir, sinceramente com esta pandemia creio que se transformou mais num desejo assumido de sobreviver e resistir de forma minimamente condigna e salutar a todas as ameaças e novos desafios que o mundo nos trouxe.
Na verdade é ambígua a minha relação com cada novo ano, pois se é certo que estou ansiosa por deixar para trás o ano velho ( e 2021 foi um ano especialmente complicado ao nível pessoal e profissional, com medo, perdas, sonhos que se tornaram impossíveis de concretizar e, em muitas coisas, uma sensação de inegável vazio) também não é menos certo, embora não seja politicamente correcto fazer tal afirmação, que encaro o novo ano com iguais doses de esperança e de medo, pois a almejada mudança radical para melhor pode ser perfeitamente ilusória e não o assumir pode dificultar o desenvolvimento dos mecanismos de defesa para enfrentar frustrações e problemas que podem surgir.
Este ano que findou e não deixa muitas saudades fez-me confrontar com a minha finitude pois em dado momento julguei não sobreviver à Covid-19 a que não escapei pese embora todas as restrições e regras que fiz questão de cumprir, e depois ao ser apanhada pela doença confesso ter-me sentido revoltada e frustrada por nenhuma vantagem afinal me ter sido conferida por agir "by the book"!
Reaprendi a importância da amizade, e a maior lição que retiro de 2021 é a importância de sermos seres sociais e de não estarmos sós mas sim rodeados daquela que é a "nossa gente" , às "minhas pessoas" devo também a vida e o constante incentivo a seguir em frente mesmo quando, em tantos momentos fraquejei e fraquejo!
Em termos profissionais conheci em 2021 o quão cruel, ingrata e impiedosa pode ser a natureza dita humana, o instinto predatório alimentado pela ambição faz revelações dignas, também elas, das páginas de um bom livro que, creio, ainda irei escrever quando a poeira assentar. Inicio pois 2022 com um assumido desejo de ver feita a justiça possível para serenar o meu espírito e voltar a acreditar um pouco na justiça!
Percebi que os afectos, um simples café, o poder ir a um restaurante e conviver (tema polémico e é nítida a segregação neste âmbito entre vacinados e não-vacinados, não deixando de me espantar que as opinões extremadas me revelaram pessoas que afinal não conhecia assim tão bem), poder respirar ar puro sem ter de usar máscara, ter força anímica para uma caminhada, são luxos que chegamos mesmo a perder.
E os sacrifícios da nossa qualidade de vida valem a pena? Sinceramente, apenas contam como créditos em termos de consciência, não muito mais além disso.
O que mais quero para 2022, o fim desta pandemia, e tenho muito medo de como irei reagir se este sonho não me for concedido! Nunca tive tanto medo da incerteza e de sentir que não controlo nem um terço do meu modo de vida!
Quanto a heróis de 2021, sem dúvida os profissionais de saúde que estão na linha da frente e que dão a cada momento o seu melhor! Bem hajam!
Que a esperança renasça!
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