segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

CRÍTICA LITERÁRIA | Onde o Desejo se esconde, de Nora Roberts | Chá das Cinco - Edições Saída de Emergência

 

Texto: Isabel de Almeida | Crítica Literária | Jornalista

Onde o Desejo se esconde é um trepidante thriller romântico escrito com a mestria a que Nora Roberts já habituou os seus fãs, sendo o segundo romance da série D.C. detectives, cuja acção decorre em Washington.

Nesta obra com um enredo bem tecido, pautado por acção, perigo, violência, crime, mas também muita paixão e romantismo, numa combinação perfeita entre todos estes ingredientes, encontramos como protagonista feminina Grace MacCabe, uma famosa escritora de policiais, que se desloca à capital dos Estados Unidos, em visita à irmã - Kathleen, Professora que atravessa uma fase menos boa na vida, na sequência de um divórcio complicado que pôs fim ao casamento, algo de fachada, com o pretensioso e arrogante advogado Jonathan Breezewood III.

O caminho de Grace irá cruzar-se com o do detective Ed Johnson, que reside no bairro simples onde habita Kathleen, e ainda que com muitas reticências de Ed e do seu colega Ben Paris (protagonista do primeiro livro da série), a escritora decide envolver-se activamente numa investigação que pretende descobrir a identidade de um perigoso assassino em série que escolhe as suas vítimas entre as operadoras de uma empresa de telefonemas eróticos.

É curioso ir assistindo ao desenrolar da trama, com inúmeros momentos de tensão, e assistirmos ao nascimento da cumplicidade crescente entre Grace e Ed, duas personalidades fortes mas muito díspares, à medida que vamos também penetrando na mente perturbada do assassino e das suas vítimas.

Um livro que é puro entretenimento, que se lê num ápice, mas que nos leva a pensar em diversos temas próprios das sociedades modernas, como o impacto das novas tecnologias no dia a dia e na vivência da intimidade. Podemos indagar sobre que factores podem levar uma mulher a tornar-se operadora de linhas eróticas? - rendimento extra, viver fantasias adoptando uma espécie de alter ego e fugir, assim, à rotina do quotidiano, e também, no reverso da medalha, o que levará os homens  a usufruir deste tipo de serviço? viver uma realidade paralela e proibida sem consequências de maior na vida familiar, dado não haver ligação emocional nem contacto físico? Procurar uma alternativa de conforto para a solidão e para a rotina? Viver uma identidade alternativa onde poderá idealizar-se a si mesmo e ao outro de modo mais gratificante?

Muito interessante foi também a forma como Nora Roberts construiu a personagem do assassino em série, pois a pouco e pouco, vamos penetrando no seu contexto familiar, e ficamos com a noção de que, por vezes, nem sempre o que parece um modelo de família perfeito acaba por se revelar enquanto tal. Em termos psicológicos, encontramos no assassino um homem que tendo tido problemas em construir uma identidade própria, e tendo dificuldade em seguir e acompanhar um modelo parental bastante poderoso e marcante, encontra no crime, e na relação de fantasia sexual que estabelece com as suas vítimas, uma forma de afirmar o seu poder e de provar a sua grandiosidade e inteligência, desafiando também as autoridades.

Temos, pois, aqui um romance que pode ter várias leituras, mas que satisfaz plenamente quem procura uma história marcante, mas com muito romantismo à mistura, e cuja leitura se recomenda.


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