Uma conversa entre o historiador Filipe Ribeiro de Meneses e o embaixador Bernardo Futscher Pereira, moderada pela jornalista Luísa Meireles, agendada para a próxima terça-feira, 13 de setembro, às 18h30, na Fundação Calouste Gulbenkian, serve de apresentação ao livro “Orgulhosamente Sós, A Diplomacia da Guerra 1962-1974”, obra que conclui a trilogia dedicada à história diplomática do Estado Novo à qual o actual embaixador de Marrocos dedicou a última década. Pela primeira vez é feita a narrativa integrada e coerente da política externa de Salazar no período das guerras coloniais até ao 25 de Abril.
Este volume descreve os esforços do regime para escapar ao isolamento internacional e encontrar os apoios indispensáveis ao esforço de guerra que desenvolvia em três frentes: Angola, Moçambique e Guiné. Seguindo uma abordagem cronológica do conflito, o atual embaixador português em Marrocos coloca o foco na atividade diplomática do regime, mas integra também os aspetos mais relevantes das campanhas militares e da situação política prevalecente em Lisboa.
A investigação inédita, feita no Arquivo Histórico e Diplomático do ministério dos Negócios Estrangeiros, lança uma nova luz sobre diversos aspetos da atividade do Estado Novo neste período, tais como os debates ocorridos no seio do regime em 1962 após a queda de Goa, as negociações com os países africanos em Nova Iorque em 1963, o incentivo de Portugal à independência unilateral da Rodésia, os enormes esforços feitos por Salazar para cativar a África do Sul, que acabariam por conduzir à decisão de construir Cabora Bassa e posteriormente ao exercício Alcora, e a forma como se desenvolveram as relações com os estados limítrofes das províncias ultramarinas, designadamente a Zâmbia, o Malawi e o Zaire.
Procurando fazer das fraquezas forças, em 1965, Salazar proclamara que combatíamos “orgulhosamente sós”, frase inspirada em Mussolini. Do ponto de vista ideológico, a fórmula era inteiramente exata. No plano diplomático, a situação era menos clara. Desde o Ultimato de 1890, a defesa do Ultramar era um paradigma da política portuguesa. Atravessara intacto as últimas décadas da Monarquia e toda época conturbada da Primeira República. Para os ideólogos do Estado Novo, formados no culto da Nação, proteger esse legado sagrado tornara-se a razão de ser do regime. A defesa das colónias e a defesa do regime eram consubstanciais. Salazar considerava impensável abdicar de qualquer parcela do território nacional. Marcelo Caetano, quando chegou ao poder em 1968, teve a oportunidade de procurar uma saída para uma situação de impasse que já se tornara notória: “Ainda hoje é difícil explicar porque não o tentou”.
Bernardo Futscher Pereira nasceu em 1959. Estudou no Liceu Francês Charles Lepierre. Tem mestrados em Ciências Políticas e em Relações Internacionais pela Universidade de Columbia em Nova Iorque. Trabalhou como jornalista antes de ingressar no Ministério dos Negócios Estrangeiros em 1987. Como diplomata, o seu primeiro posto no estrangeiro foi em Tel Aviv. Serviu em Bruxelas como chefe de gabinete do secretário-geral da UEO, embaixador José Cutileiro. Foi conselheiro diplomático do ministro da Defesa Nacional, José Veiga Simão, e assessor para as relações internacionais do Presidente da República Jorge Sampaio entre 1999 e 2006. Foi cônsul-geral em Barcelona e embaixador em Dublin entre 2012 e 2017. Foi conselheiro diplomático e «sherpa» do primeiro-ministro António Costa entre 2017 e 2019. Tem publicado numerosos artigos sobre a política externa portuguesa, história diplomática e política internacional. É autor de “A Diplomacia de Salazar (1932-1949)”, editado em 2012, e “Crepúsculo do Colonialismo (1949-1961)”, publicado em 2017. É embaixador em Rabat desde janeiro de 2020.