Em casa eram só os dois.
O Miguel, e a sua filha, Aurora
Tinha ficado só,
com uma recém-nascida nos braços, e sem a sua amada esposa.
Gostava de pensar
que se tornara um pai à altura de todas as circunstâncias. A filha enchia-lhe o
coração de felicidade e de um orgulho maravilhoso, à medida que ía descobrindo
a beleza que trazia na alma.
Tinha-se tornado
uma menina linda, que só lhe trazia alegria.
À medida que
Aurora foi crescendo, quando chegada a época do Natal, o Miguel tinha mais
dificuldade em ensaiar desculpas para as prendas do Pai Natal.
Este ano queria
dar à Aurora um Natal especial. Ela merecia uma prenda mágica, como ela. Mas o
quê?
Resolveu sondar a
garota, tentar perceber se haveria algo que ela gostasse de ter naquela altura.
- Aurora, minha
querida, queria falar contigo. Pode ser?
- Está claro, meu
Papá. – A menina sentou-se junto dele, com a atenção totalmente concentrada no
pai.
Os seus grandes
olhos, cor de mel, tão parecidos com os da sua mãe, olhavam para ele com
atenção, e com um toque de malandrice.
O pai, aclarou a
garganta, e perguntou:
- Minha pipoca,
estamos quase no Natal. Já terás, por acaso, pensado em algo que gostasses
muito que o Pai Natal te desse?
Aurora, deu um
longo suspiro, remexeu-se na cadeira, e ficou calada por um momento.
Depois, levantou
os olhos e respondeu:
- Papá tonto e
querido, eu não quero nada. Tenho tudo que quero. Tenho-te a ti.
Fez uma careta
marota, com os seus longos nove anos completos, como gostava de salientar, e continuou:
- Se me queres dar
alguma coisa, dá-me uma das tuas maravilhosas histórias.
- Então, minha
menina, já sabes quem é o Pai Natal.
- Claro, Papá! Há
muito tempo. Mas tu gostavas tanto das surpresas...
A sua menina
conseguia deixá-lo sem palavras.
Assim, no dia
seguinte, sentou-se à sua mesa, com um caderno novo.
Não conseguia
ganhar a vida só com as histórias que escrevia, mas tinha sempre o prazer de
saber que alguns leitores nunca deixavam de ler o que escrevia, e a sua filha
era a sua primeira fã.
Mergulhou no mundo
especial, e procurou a história que havia de lhe contar.
“Na Lapónia, a
terra do Pai Natal, bem escondido de todas as pessoas, existe um sítio onde
vivem os gnomos que fazem as prendas especiais que ele entrega na noite da
véspera de Natal.
São uns gnomos
especiais, são muito rápidos, são mágicos, pois com quase nada fazem os
presentes mais maravilhosos que um menino, ou uma menina possam imaginar.
Eles são
igualmente muito fortes e resistentes, e o seu entretém favorito é pregar
partidas uns aos outros.
Um dia, nasceu um
gnomo diferente. Era muito pequenino, mais pequenino do que os demais, e muito franzino.
Era fraquinho, não tinha a força a habilidade de todos os outros.
Desorientado, sem
saber o que fazer aquele seu gnomo, o chefe dos gnomos foi falar com o Pai
Natal.
- Não sei que lhe
faça. Não tem a nossa habilidade, não sabe fazer brinquedos. É diferente dos
demais.
- E isso é assim
tão mau? – Perguntou o Pai Natal.
- Não, Pai Natal!
Está claro que não é! É um gnomo como os demais. Só que não sei o que há-de o miúdo
fazer!
- Manda-o cá ter
comigo.
No dia seguinte, o
pequeno gnomo lá apareceu diante do Pai Natal.
- Então, meu
rapaz, como te chamas?
- Chamaram-me
Pequeno. Dão-nos os nomes conforme as características que cada um tem.
- Pequeno é um bom
nome. Pelo menos a mim parece-me que sim.
O gnomo, baixou os
olhos pestanudos, envergonhado.
- Agora o que eu
gostava de saber, era se tu, por acaso, não terias um dom diferente dos teus
irmãos.
Por vezes
acontece, embora já não suceda há bastante tempo, aparecer um de vocês com um
dom especial, e depois, por qualquer motivo, fico sem saber de nada durante
muito tempo, e o que é que acontece?
- Ficas zangado...
- Não, claro que
não! Mas perdemos tempo sem necessidade.
Pequeno, raspou
com a biqueira enrolada da bota no chão, não levantando os olhos.
- Poderá ser este
o caso?
- Não sei se é...
- Porque não me
contas?
- Eu consigo ouvir
quando os meninos terminam de te escrever as cartas com os seus pedidos especiais...
- Ora, mas isso é
fantástico! E vai ser uma ajuda muito grande para todos nós. Vais ficar
encarregado de levantar essas cartas. O tempo que vamos ganhar!
Muito bem! Vais
ter com o Texugo Resmungão, que ele logo te diz que te irá ajudar nas tuas
andanças.
Toda a gente
conhecia o Texugo Resmungão. Ele tomava conta dos animais do Pai Natal.
O Pequeno podia
ser fraquinho, não ter força, mas se havia coisa que ele tinha com fartura era ligeireza.
Era o mais rápido de todos os gnomos, e isso iria ser muito útil.
O Texugo
apresentou-lhe a Lebre Ágil, e a Coruja da Noite. Elas iriam ser as suas
companheiras na recolha das cartas.
E foi assim que o
mais pequeno de todos os gnomos fez com que o Natal, naquele ano e nos
seguintes, não fosse a correria do costume, até à última hora.”
Quando terminou,
Miguel embrulhou o caderno num lindo papel de presente, e colocou um laçarote, como
sabia que a sua filhota gostava.
Naquele ano, a sua
menina iria ter uma prenda especial!