Cão Como Nós, de Manuel Alegre, assinala os 20 anos desse livro tão especial na obra do autor e, de certo modo, na literatura portuguesa.
Um livro que encanta e comove leitores de todas as idades, que é há muito um best-seller, com mais de 30 edições e superando os 200 mil exemplares vendidos, e que agora é publicado numa edição em capa dura, enriquecida com nove desenhos de Bárbara Assis Pacheco e um prefácio de Clara Rocha, que a dada altura escreve o seguinte:
“Em Cão como Nós chora-se, pois, a morte de um cão. Cão que ocupa o lugar de protagonista na novela e que constitui a sua metáfora moldurante. Na literatura universal, são muitos os exemplos de textos em que as personagens principais são bichos humanizados, desde as Fábulas de Esopo até O Asno de Ouro de Apuleio, desde o medieval Le Roman de Renart até ao Romance da Raposa de Aquilino Ribeiro, desde «O Burrinho Pedrês» de Guimarães Rosa até Bichos de Miguel Torga, desde A Metamorfose de Kafka (é aqui a criatura humana que um dia acorda transformada em bicho) até A Ratazana de Günter Grass. Em cada um desses textos, metáfora ou alegoria, a personagem animal tem a sua funcionalidade própria. O mesmo acontece com o cão da novela de Manuel Alegre, que nos interpela enquanto leitores e nos pede decifração, como se ainda raspasse na porta ou se nos encostasse às pernas a pedir festas.”
O cão de que aqui se fala é Kurika, um Épagneul-Breton com manchas castanhas e uma espécie de estrela branca no meio da cabeça, o cão de Manuel Alegre, que o acompanhava para todo o lado, nas idas à caça ou em simples passeios, o cão rebelde, desobediente, caprichoso, o cão que não queria ser cão, queria ser como nós. O cão que o autor transformou em personagem principal de uma história onde estão presentes os conceitos da solidariedade, da lealdade e do afecto e que começa assim:
“(Sei que andas por aí, oiço os teus passos em certas noites, quando me esqueço e fecho as portas começas a raspar devagarinho, às vezes rosnas, posso mesmo jurar que já te ouvi a uivar, cá em casa dizem que é o vento, eu sei que és tu, os cães também regressam, sei muito bem que andas por aí.)”
Cão Como Nós, publicado pela primeira vez pela Dom Quixote em 2002, está igualmente editado em Espanha, Itália, Alemanha e Brasil.
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