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domingo, 25 de dezembro de 2022

UMA HISTÓRIA PELO NATAL, de ANITA DOS SANTOS

Em casa eram só os dois.

O Miguel, e a sua filha, Aurora

Tinha ficado só, com uma recém-nascida nos braços, e sem a sua amada esposa.

Gostava de pensar que se tornara um pai à altura de todas as circunstâncias. A filha enchia-lhe o coração de felicidade e de um orgulho maravilhoso, à medida que ía descobrindo a beleza que trazia na alma.

Tinha-se tornado uma menina linda, que só lhe trazia alegria.

À medida que Aurora foi crescendo, quando chegada a época do Natal, o Miguel tinha mais dificuldade em ensaiar desculpas para as prendas do Pai Natal.

Este ano queria dar à Aurora um Natal especial. Ela merecia uma prenda mágica, como ela. Mas o quê?

Resolveu sondar a garota, tentar perceber se haveria algo que ela gostasse de ter naquela altura.

- Aurora, minha querida, queria falar contigo. Pode ser?

- Está claro, meu Papá. – A menina sentou-se junto dele, com a atenção totalmente concentrada no pai.

Os seus grandes olhos, cor de mel, tão parecidos com os da sua mãe, olhavam para ele com atenção, e com um toque de malandrice.

O pai, aclarou a garganta, e perguntou:

- Minha pipoca, estamos quase no Natal. Já terás, por acaso, pensado em algo que gostasses muito que o Pai Natal te desse?

Aurora, deu um longo suspiro, remexeu-se na cadeira, e ficou calada por um momento.

Depois, levantou os olhos e respondeu:

- Papá tonto e querido, eu não quero nada. Tenho tudo que quero. Tenho-te a ti.

Fez uma careta marota, com os seus longos nove anos completos, como gostava de salientar, e continuou:

- Se me queres dar alguma coisa, dá-me uma das tuas maravilhosas histórias.

- Então, minha menina, já sabes quem é o Pai Natal.

- Claro, Papá! Há muito tempo. Mas tu gostavas tanto das surpresas...

A sua menina conseguia deixá-lo sem palavras.

Assim, no dia seguinte, sentou-se à sua mesa, com um caderno novo.

Não conseguia ganhar a vida só com as histórias que escrevia, mas tinha sempre o prazer de saber que alguns leitores nunca deixavam de ler o que escrevia, e a sua filha era a sua primeira fã.

Mergulhou no mundo especial, e procurou a história que havia de lhe contar.

“Na Lapónia, a terra do Pai Natal, bem escondido de todas as pessoas, existe um sítio onde vivem os gnomos que fazem as prendas especiais que ele entrega na noite da véspera de Natal.

São uns gnomos especiais, são muito rápidos, são mágicos, pois com quase nada fazem os presentes mais maravilhosos que um menino, ou uma menina possam imaginar.

Eles são igualmente muito fortes e resistentes, e o seu entretém favorito é pregar partidas uns aos outros.

Um dia, nasceu um gnomo diferente. Era muito pequenino, mais pequenino do que os demais, e muito franzino. Era fraquinho, não tinha a força a habilidade de todos os outros.

Desorientado, sem saber o que fazer aquele seu gnomo, o chefe dos gnomos foi falar com o Pai Natal.

- Não sei que lhe faça. Não tem a nossa habilidade, não sabe fazer brinquedos. É diferente dos demais.

- E isso é assim tão mau? – Perguntou o Pai Natal.

- Não, Pai Natal! Está claro que não é! É um gnomo como os demais. Só que não sei o que há-de o miúdo fazer!

- Manda-o cá ter comigo.

No dia seguinte, o pequeno gnomo lá apareceu diante do Pai Natal.

- Então, meu rapaz, como te chamas?

- Chamaram-me Pequeno. Dão-nos os nomes conforme as características que cada um tem.

- Pequeno é um bom nome. Pelo menos a mim parece-me que sim.

O gnomo, baixou os olhos pestanudos, envergonhado.

- Agora o que eu gostava de saber, era se tu, por acaso, não terias um dom diferente dos teus irmãos.

Por vezes acontece, embora já não suceda há bastante tempo, aparecer um de vocês com um dom especial, e depois, por qualquer motivo, fico sem saber de nada durante muito tempo, e o que é que acontece?

- Ficas zangado...

- Não, claro que não! Mas perdemos tempo sem necessidade.

Pequeno, raspou com a biqueira enrolada da bota no chão, não levantando os olhos.

- Poderá ser este o caso?

- Não sei se é...

- Porque não me contas?

- Eu consigo ouvir quando os meninos terminam de te escrever as cartas com os seus pedidos especiais...

- Ora, mas isso é fantástico! E vai ser uma ajuda muito grande para todos nós. Vais ficar encarregado de levantar essas cartas. O tempo que vamos ganhar!

Muito bem! Vais ter com o Texugo Resmungão, que ele logo te diz que te irá ajudar nas tuas andanças.

Toda a gente conhecia o Texugo Resmungão. Ele tomava conta dos animais do Pai Natal.

O Pequeno podia ser fraquinho, não ter força, mas se havia coisa que ele tinha com fartura era ligeireza. Era o mais rápido de todos os gnomos, e isso iria ser muito útil.

O Texugo apresentou-lhe a Lebre Ágil, e a Coruja da Noite. Elas iriam ser as suas companheiras na recolha das cartas.

E foi assim que o mais pequeno de todos os gnomos fez com que o Natal, naquele ano e nos seguintes, não fosse a correria do costume, até à última hora.”

Quando terminou, Miguel embrulhou o caderno num lindo papel de presente, e colocou um laçarote, como sabia que a sua filhota gostava.

Naquele ano, a sua menina iria ter uma prenda especial!




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