PRÓLOGO
Eram os céus, tantos, tão vastos.
Os céus acima do mar, como os céus se alteravam.
Alguns céus eram pesados, branco-sujos. Outros, azuis e brilhantes, despreocupados, com finas raias de branco. Alguns eram como papel de seda, meticulosamente dobrado sobre uma cintilação dourada e cativante; outros, de um monótono cinzento de aço; outros, ainda, um abismo que relampejava de fúria.
Os céus e o modo como se erguiam, abobadados, acima das falésias macias, desgastadas durante milénios por glaciares, e assim observavam o mundo inteiro e tudo dominavam.
Como se geravam e dissolviam e regressavam sob uma nova forma, sem que alguma vez se pudesse antecipar qual.
Eram os céus.
E as águas.
E as falésias.
Era tudo.
E as pessoas. As pessoas, aqueles seres minúsculos que tinham construído as suas casas nas massas de terra rasgadas, sulcadas. Para apanharem arenque na devida época, há muito tempo, quando o arenque chegava em cardumes tão grandes como nunca se tinha visto. Nunca tinha visto cardumes assim.
Dizia-se que se podia ir a pé de uma ilha à outra. Que havia mais arenque do que água.
As pessoas viviam naquelas ilhas e navegavam naquelas águas, sob todos aqueles céus. E, em certas ocasiões — não tão raras, de resto —, um corpo caía à água, sob um céu qualquer, caía onde não deveria cair e pronto — as coisas ficavam assim, nada se alterava. Bem, não para as pessoas, claro, mas para as águas e os céus nada mudava.
Talvez se ouvissem gritos, um nome levado pelo vento. Gritos em terra ou num barco à superfície do mar.
Às vezes, no inverno, quando o mar parecia tornar-se mais profundo e escuro, ouvia-se falar de outros gritos. De gritos que vinham do mar, gritos que procuravam terra. Gritos que ludibriavam e atraíam.
Mas talvez não passassem apenas de histórias que as pessoas contavam.
Talvez fosse apenas o vento.
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