Nem só de folia vive o Homem!
Sábado à noite nas ruas
praticamente desertas da Lourinhã, onde só se ouvia o som de passos caminhando
aparentemente sem rumo, até pararem à porta do Auditório Dr. Afonso Rodrigues
Pereira. Um prédio antigo, renovado, com um anfiteatro suficientemente grande
para o evento a que se destinava. Fileiras de cadeiras, o ar condicionado
ligado, convidativo, para quem deixava para trás o frio da noite e nas caras
dos responsáveis pela organização uma expressão de incerteza, seria o público
suficiente para preencher a sala? O dia escolhido para a apresentação do livro:
“A Mais Breve História da Rússia”, de José Milhazes, era uma aposta arriscada
quando a vizinha Torres Vedras estava com o Carnaval ao rubro. O evento da
noite era uma versão do Oeste de David contra Golias.
Foi num piscar de olhos,
que a angústia sobre a possibilidade de uma sala vazia se transformou num
pesadelo logístico, os lugares deixaram de ser suficientes para acomodar tanta
gente. Prontamente foram colocadas cadeiras de apoio dos dois lados de cada
fila, houve ainda quem se encostasse às paredes ou até mesmo se sentasse no
chão, as portas deixadas abertas permitiam que todos os que já não tinham lugar
no interior pudessem assistir ainda que do lado de fora.
Sentiu-se no ar um entusiasmo
vibrante quando José Milhazes entrou, a assistência com o seu livro recém-adquirido
aguardava expectante para o escutar. Ficámos a saber o motivo pelo qual
escreveu o livro, quando o tinha feito, falou com emoção sobre todo o percurso
que tem pautado a sua vida, como poveiro, filho de pescadores, marido, pai,
avô, o motivo que o fez viver na URSS, as circunstâncias que o fizeram deixar a
atual Federação Russa, como todos os momentos da sua vida que o moldaram, fortaleceram,
o tornaram no homem admirado e admirável que é.
Às inúmeras perguntas que
lhe foram colocadas respondeu sempre com conhecimento, humor e “sem papas na
língua”, possivelmente, das suas características, aquela que mais apreciamos.
Passava da meia-noite
quando terminou, mas não se foi embora, não sem antes falar individualmente com
todos aqueles que não se quiseram despedir, sem levar uma dedicatória sua como
lembrança, de um serão tão bem passado.
Obrigada José Milhazes.
Também lhe tenho muita
estima e consideração.
Texto: Madalena Condado
Fotos: Pavel Kolomytsev