A revelação da arte poética de um grande romancista.Longos Versos Longos assinala o regresso de João de Melo à poesia, quatro décadas após a publicação do seu primeiro e, até agora, único livro de poemas: Navegação da Terra (1980).
Nele encontramos textos de exaltação do tempo e da vida, derivas sobre a angústia e a metafísica, mas também a revisitação apaixonada das tão amadas ilhas dos Açores.
Trata-se de uma poética meditada sobre a escrita e a literatura, a efemeridade do ser, a espiritualidade da fé e a perda de Deus. No final desta cadeia temática, o livro propõe-nos alguns poemas trágicos sobre o nosso quotidiano coletivo, um deles em prosa, «Poema às portas de Bagdade», que nos fala dos horrores permanentes (ou repetidos) das guerras do mundo.
Os profetas do mar anunciam-na a partir da sombra. Não pela sua luz. Surge decalcada na bruma, oásis de um outro lugar deserto sobre o mar. Como se de água fosse, e não de areia, a sua alfombra.
Ilha. Mais coisa menos coisa, todos nela vivemos à sorte. Divididos entre o proibido e o obrigatório. Sonhamos horizontes. Noutros ventos os lemos. E em sonhos moramos como almas no Purgatório.
Está aí não tarda o dia ou a noite da minha morte. Dividirão ao meio as cinzas do corpo: metade delas voltará ao pó da terra de que nasci; a outra metade
que a lance a mão de alguém mais ou menos à sorte. Pode ser que o vento e o mar tenham olhos de vê-las, livres e belas, e assim as separem da mortalidade.
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