sábado, 27 de julho de 2024

ARTIGO DE OPINIÃO | TRINTA MOEDAS DE PRATA DE JUDAS, de MADALENA CONDADO

Jogos olímpicos, alterações climáticas, guerras, o Mundo começa a desmoronar-se, no entanto ao ouvir ontem a Associação Coração Silenciado, algo em mim impeliu-me a dizer o que penso. Não tenho nervos de aço e a minha opinião vale o que vale, mas quero falar sobre o recente documento da Igreja católica acerca da compensação financeira às vítimas de abusos sexuais perpetrados por padres pedófilos.

Ainda que o tema seja altamente sensível e complexo, a verdade é que tem gerado grande controvérsia e sofrimento. Nos últimos anos, inúmeros casos de abusos sexuais cometidos por clérigos contra menores foram denunciados, revelando um padrão de comportamento abusivo que foi, em muitas situações, encoberto pelas instituições religiosas. Esses casos não apenas destroem vidas individuais, mas também abalam a confiança na própria instituição.

A Bíblia diz-nos que todos que se opuseram à vontade de Deus foram castigados por ele, Adão e Eva; Caim; a Geração de Noé; o Povo de Babel; o Faraó do Egito; o povo de Israel no deserto; o Rei Saul; o Rei Acabe e Jezabel, Judas Iscariotes, Ananias e Safira, Lúcifer. No entanto, para os padres abusadores não há castigo, tudo lhes é permitido e nada lhes acontece.

Meus senhores, a vossa usual e triste desculpa de que a culpa é das crianças não vos iliba da vossa devassa.

Quando ouço que de um número infindável de vítimas que tiveram a coragem de falar sobre as infâmias que lhes foram infligidas só quarenta e três pedem indemnizações, confesso que achei pouco, até porque ainda que o dinheiro não apague nenhum dos crimes a que foram sujeitos, acredito que poderá ajudar nos tratamentos de que necessitem.

“Deixai vir a mim os pequeninos, e não os impeçais, porque dos tais é o reino de Deus.” (Lucas 18:16)

E agora V. exas. informam que cada pedido vai ser primeiro analisado por uma comissão de instrução e o valor a atribuir será “proporcional à gravidade do dano”, definido caso a caso, por uma comissão de Fixação de Compensação composta por sete pessoas entre as quais estará um representante da diocese onde o alegado agressor exercia funções o mesmo local onde nunca ninguém viu nada, ouviu nada e falou nada.

Quererem submeter as vítimas a uma nova revisão dos abusos, desta feita com mais detalhes (porque aparentemente aqueles que têm não vos chegam) leva-me a pensar que servirão para ser usados num retorcido manual de boas práticas futuras. Expliquem-me como pretendem agir? Vão colocar os dados recolhidos numa folha de Excel, para posteriormente compararem as colunas: o início da molestação; a duração dos abusos; a idade da vítima e do alegado agressor; o local onde os abusos ocorreram; quantas vezes foram molestados física e psicologicamente; os danos físicos que sofreram e ainda sofrem; a natureza da relação entre agredido e agressor?

Sugiro pararmos todos para respirar!

Tenham um pingo de decência já que aparentemente não vos resta moral.

“A minha casa será chamada casa de oração; mas vós a tendes convertido em covil de ladrões.” (Mateus 21:13)

Conseguiram transformar a vossa instituição numa Sodoma e Gomorra, e ainda que não se transformem em estátuas de sal, saibam que ao fecharem os olhos e ignorarem a dor de quem sofre unicamente por vossa culpa, roçam a imoralidade extrema.

“Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem.” (Lucas 23:34)

Às corajosas vítimas que continuam a lutar por justiça, pelo reconhecimento dos danos sofridos, não desistam, porque se existe realmente um Reino dos Céus esse já é vosso e não desta corja de pés de barro.


Madalena Condado

 

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