Todas as personagens deste livro parecem estar empenhadas numa confrontação com o Tempo: o tempo dos acontecimentos que viveram ou estão a viver e o tempo da memória ou da consciência. Mas é como se uma tempestade de areia se tivesse levantado nas suas clepsidras: o tempo foge e detém-se, gira sobre si próprio, esconde-se, reaparece a pedir contas. Do passado emergem estranhos fantasmas, as coisas que antigamente eram incompatíveis agora parecem harmonizar-se, as versões oficiais e os destinos individuais não coincidem.
Um-ex agente da defunta República Democrática Alemã que durante anos espiou Bertold Brecht, vagueia sem destino por Berlim até ir ter ao túmulo do escritor para lhe confiar um segredo. Numa localidade de férias da ex-Jugoslávia, um oficial italiano da ONU que durante a guerra do Kosovo sofreu as radiações do urânio empobrecido ensina a uma miúda a arte de ler o futuro nas nuvens. Um homem que engana a sua solidão contando histórias a si próprio torna-se protagonista de uma aventura que inventara numa noite de insónia.
Sensível às convulsões da História recente, Antonio Tabucchi mede-se com o nosso Tempo «desnorteado», em que se os ponteiros do relógio da nossa consciência parecem indicar uma hora diferente daquela que vivemos.
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