domingo, 18 de agosto de 2024

PARA ISABEL, de ANTONIO TABUCCHI | DOM QUIXOTE

 

Como definir uma história como esta? À primeira vista poderia parecer um romance fantástico, mas talvez fuja a todas as definições possíveis. Antonio Tabucchi deu-lhe um subtítulo: «um mandala», mas na realidade, segundo critérios ocidentais, trata-se afinal de uma investigação, uma busca que parece conduzida por um Philip Marlowe metafísico. Mas à metafísica, nesta investigação espasmódica e peregrina, vêm juntar-se conceitos muito terrenos da vida: sabores, lugares, cidades, imagens que estão ligadas ao nosso imaginário, aos nossos sonhos, mas também à nossa experiência quotidiana. E então, em que ficamos?
Na sua «Justificação em forma de nota» Tabucchi sugere que pensemos num monge vestido de vermelho, em Hölderlin e numa canção napolitana. Podem talvez parecer elementos incongruentes. Mas talvez seja preferível não procurar verosimilhança num dos mais extravagantes, visionários e ao mesmo tempo envolventes romances que a literatura italiana alguma vez nos deu.
O leitor português reconhece neste livro uma geografia familiar (Lisboa, Barcelos, Cascais e a Arrábida), mas a acção desloca-se também para o extremo Oriente (Macau), para a Suíça e para a Itália. E esses mesmos lugares surgem-nos então, através do olhar de Antonio Tabucchi, surpreendentemente transfigurados.

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