domingo, 20 de outubro de 2024

AUTOBIOGRAFIA DE JESUS, de MIGUEL REAL | D. QUIXOTE

 

No novo romance de Miguel Real, original e inventivo, é o Filho de Deus que nos fala daquilo de que os Envagelhos não falam: a sua vida familiar, a sua aprendizagem, as suas revelações, a sua conduta com as mulheres e, sobretudo, a sua tremenda solidão.


Para o autor do presente livro, Jesus é uma coisa e Cristo é outra. Quando em pequeno, numa aula da catequese, Miguel Real explicou ao catequista que não acreditava que ninguém que tivesse morrido pudesse voltar à vida, este, amigo da família, ficou tão chocado com aquela sinceridade que foi queixar-se à sua mãe, de quem recebeu a resposta que merecia.
Foi desde então que o problema da Ressurreição não mais deixou de preocupar o escritor e, tantos anos volvidos, o levou a escrever esta Autobiografia de Jesus tomando a voz do Filho de Deus, já que nada se conhece que Jesus tenha deixado escrito pela sua mão e os Evangelhos praticamente não falam do que foi a sua vida familiar, a sua aprendizagem, as suas revelações, a sua conduta com as mulheres e, sobretudo, a sua tremenda solidão.

É sobre tudo isso que trata este romance há muito esperado, de um autor frequentemente atraído pelos assuntos religiosos e com várias obras ensaísticas publicadas em torno do pecado, da Igreja e do culto de Fátima. Com um final incrivelmente inesperado, parece que aquele nó cego criado na mente do autor durante a infância vai certamente ser desatado durante a nossa leitura.


«Trago um mistério comigo, o meu rosto nunca sorri, mesmo quando Madalena brinca comigo à beira d’água, lavando-me a cabeça com óleo de tâmara, ou quando, há muitos anos, os meus irmãos mais novos faziam pirraças montados no lombo das ovelhas ou das cabras. A gravidade e a sisudez são o meu porte, antes de agir penso duas, três vezes, criando alternativas no interior da missão que o Pai me destinou, sou sério como o era o meu pai José. Quando estou só, penso em fugir e ir para outro lado que, depois, se revelará tão bom e tão mau como o sítio onde me encontro. Gosto de estar sozinho, de me isolar, mas isolado nada posso fazer, sobretudo a missão de que o Pai me incumbiu. Estou sempre só, embora as multidões se acotovelem à minha volta, ansiando por prodígios.»



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