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quinta-feira, 31 de outubro de 2024

TORTO ARADO, de ITAMAR VIEIRA JUNIOR | LEYA

Prémio Leya 2018
Prémio Oceanos 2020


Um livro comovente que traz a herança dos clássicos

Bibiana e Belonísia são filhas de trabalhadores de uma fazenda no Sertão da Bahia, descendentes de escravos para quem a abolição nunca passou de uma data marcada no calendário. Intrigadas com uma mala misteriosa sob a cama da avó, pagam o atrevimento de lhe pôr a mão com um acidente que mudará para sempre as suas vidas, tornando-as tão dependentes que uma será até a voz da outra.

Porém, com o avançar dos anos, a proximidade vai desfazer-se com a perspectiva que cada uma tem sobre o que as rodeia: enquanto Belonísia parece satisfeita com o trabalho na fazenda e os encantos do pai, Zeca Chapéu Grande, entre velas, incensos e ladainhas, Bibiana percebe desde cedo a injustiça da servidão que há três décadas é imposta à família e decide lutar pelo direito à terra e a emancipação dos trabalhadores. Para isso, porém, é obrigada a partir, separando-se da irmã.

Numa trama tecida de segredos antigos que têm quase sempre mulheres por protagonistas, e à sombra de desigualdades que se estendem até hoje no Brasil, Torto Arado é um romance polifónico belo e comovente que conta uma história de vida e morte, combate e redenção, de personagens que atravessaram o tempo sem nunca conseguirem sair do anonimato.

Críticas
«Torto arado é um romance raro e arrebatador por ser ao mesmo tempo absolutamente local e absolutamente universal – ancoradas num espaço geográfico e sócio-cultural muito específico, na Chapada Diamantina do estado da Bahia, as personagens parecem mover-se sempre num lugar-não-lugar, habitando assim uma geografia original cujos prodígios aprendemos a admirar com o melhor de James Joyce e de William Faulkner, de Graciliano Ramos, de Guimarães Rosa ou de Gabriel García Márquez, e certamente com o Raduan Nassar que Itamar Vieira Junior escolheu para a abertura da sua narração. Fruto de uma escrita tão límpida que parece ocultar a sua enorme complexidade, Torto arado cumpre acima de tudo um propósito que a muito poucos é dado cumprir: é um livro para ser lido por todos os leitores.»
Joana Matos Frias, professora, crítica literária e jurada do Prémio Oceanos

 

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