Tudo na vida do major Santiago está prestes a mudar. Após um acidente traumático, que o obriga a reformar-se antes de tempo, sente necessidade de abandonar a capital e regressar à casa da sua infância, em Benguela. Ali, os seus dias são povoados por memórias e reflexões sobre a história da família – que remonta ao início do reino Tchiyaka –, o passado colonial de Angola e as profundas mudanças sociais que ocorreram. Mas a sua solidão termina quando aparece Jeremias e, meses depois, Zacarias, um cão e um gato fora do comum, que o irão acompanhar na nova fase da sua vida.
Em Benguela vive também Ofeka, neta de uma adivinhadora e grande dona de feitiços. Quando era criança, a avó profetizou que o seu destino seria brilhar. Agora que é uma bela mulher com uma carreira de sucesso, a defunta avó envia-lhe um espírito para a ajudar a alcançar esse destino fantástico. E Ofeka nunca mais estará só, pois o impertinente kazumbi Olegário não se priva de comentar nem mesmo a sua vida amorosa.
Quando Santiago e Ofeka se cruzam não imaginam até que ponto as suas vidas estão entrelaçadas, nem as inesperadas revelações que os aguardam. Na devida altura, terão de fazer uma escolha que irá mudar o seu destino e ensinar-lhes que tudo está ligado. Ou deve estar. E que o que deve ser só se liga pela palavra, dita, escrita ou transmitida.
«Era uma vez uma criança, de nome Ofeka, a terra. Uma grande dona de feitiços, adivinhadora do que vai passar e conhecendo curas com ervas e encantamentos, em muitos lugares chamada kimbanda, era sua avó, mãe da mãe dela. Profetizou, vais ter mesmo um destino fantástico.
Ofeka acreditou.
A profecia foi feita quando olhavam o céu, à noite. Uma estrela muito brilhante e cada vez maior parecia se aproximar e cair em cima delas. Caiu perto, na anhara verde de capim rasteiro ao lado do rio Cuporolo, onde cavou um buraco. A pedra, grande e negra, estava bem lá no fundo. Afinal as pessoas se enganavam, as estrelas são apenas grandes pedras negras luzentes. A profecia da avó tinha dito, aquele risco na noite é o teu destino, assim mesmo, a brilhar.
Ofeka acreditou.
Muito mais tarde descobriu, o seu destino era apenas uma pedra negra parecendo estrela. Só mesmo isso? Foi há muito tempo, antes mesmo da Grande Paz com a qual ainda estamos, mas não sabemos até onde vai a eternidade prometida.»